
Nunca me importei com o lugar onde e com as roupas com as quais as pessoas celebram a Santa Missa, porque nunca vi nisso o problema, mas sim na concepção que se tem de Igreja, do Reino, de Povo de Deus, do sacerdócio, da Redenção, da Eucaristia, do “Deus Conosco”...
Penso que a dificuldade não está na posição em que se fica no altar, mas sim no modo de como compreendemos o Evangelho e de como o anunciamos e no testemunho que damos de Jesus Cristo Ressuscitado.
Voltar sempre de novo para Jesus Cristo, para o Evangelho, esta é a mensagem e a proposta sempre nova de Dom Carlos Duarte Costa. Quem despreza outros por serem “carlistas”, além de injustos e mal intencionadas, demonstram que não querem justamente isto: que o povo de Deus se apodere do Evangelho e faça uso dele. Fazer com que o povo se apodere do Evangelho, esta é a tarefa que os Teólogos da Libertação assumiram e por isso que foram e são combatidos pelos “tradicionalistas”, assim como os fariseus e os “Doutores da lei” combateram a Jesus Cristo.
Não é mais possível viver a Igreja com este equívoco triunfalista pessimista que é a Igreja concebida pelos “tradicionalistas”, uma Igreja que agride as pessoas com atitudes de nervosismo e medo, de autodefesa, que vê o mundo como um adversário, que faz da condenação e da denúncia da teoria da conspiração todo um programa pastoral. Uma instituição marcada pelo restauracionismo e passividade generalizada, sem atitudes de renovação, com o pecado da autorreferencialidade à flor da pele. Onde os bispos confundem liderança com autoritarismo e consideram-se líderes apenas quando os cristãos e as cristãs de suas dioceses estão submissos e silenciosamente obedientes.

Este retorno à Jesus Cristo, ao Evangelho, esta conversão, este seguimento, esta atualização do primeiro chamado que Jesus Cristo fez aos Apóstolos e às Discípulas deve ser feito pelo povo, pois a hierarquia parece-me, não quer perder seus privilégios, por isso não tem interesse em provocar, motivar uma conversão e tampouco converter-se à Jesus Cristo.
Devemos retornar ao que é a fonte e a origem da Igreja. Deixar que o Deus encarnado em Jesus, o Filho de Maria, seja nosso único Deus. É preciso reformar e restaurar muita coisa, claro que sim, e fazer com que a doutrina seja a do Novo Testamento, mas, primeiro, é preciso voltar à fé em Jesus. Invocar um clima mais humilde, mais prazeroso, porque, caso contrário, seremos cada vez mais uma instituição decadente, mais sectária, mais rara, mais triste, mais distante do que Jesus quis e pelo qual Ele deu a Sua vida.
Jesus Cristo é um projeto, quase uma obsessão, uma necessidade imperiosa. Senão será tarde demais. Deixamos quase morrer a Ceia do Senhor, porque a Igreja não se questionou seriamente sobre a razão das pessoas saírem e buscar outras denominações, muitas vezes caindo nas mãos de mercenários da fé. Não houve uma “crise vocacional”, muita gente boa e abnegada quis e quer ser padre, dedicar todos os seus talentos e energias ao Reino, mas ao invés de acolhe-los e encaminhá-los, prefere-se ficar discutindo quem pode ou não pode ser ordenado.
É necessário e urgente voltar a entender Jesus Cristo como o que Ele realmente foi e o percebemos no Evangelho: “Um Profeta poderosos em atos e palavras” (Lc 24,19). Percebê-lo, segui-lo e imitá-lo.
É necessário e urgente que a Igreja reconheça seus pecados e se responsabilize por eles, questione suas falsas seguranças, duvide da auto “santidade”, porque santifica tudo e não vê as trevas que há dentro da Igreja, e assim não ilumina as trevas, não resplandece, é uma candeia colocada embaixo da mesa (cf. Lc 11,33).
Se a Igreja não escuta os clamores dos pobres, será surda. E, surda ficará muda. E, se muda não será capaz de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, o Evangelho livre e libertador, o único Evangelho que há.
É necessário e urgente reavivar o espírito profético do Movimento de Jesus. Não podemos nos resignar a viver uma religião cristã sem profecia.
É necessário e urgente uma presença mais ativa, indignada e atualizada da liderança cristã na sociedade, mas uma presença que se manifeste em serviço e testemunho assumindo a agenda dos movimentos sociais, dos pobres, dos excluídos, e nunca, nunca mais triunfalista. Esta presença deve esclarecer, por si só que a Igreja não é o mais importante, mas, sim, o Reino.
É necessário e urgente uma renovação espiritual com renuncia, humildade e autentica santidade dos lideres cristãos, deixando de lado carreirismos, vaidades, hipocrisias.
É necessário e urgente rememorar que o Cristianismo não é uma religião a mais, é uma religião profética, para construir um mundo mais justo, mais solidário, mais santo e esta justiça, solidariedade e santidade deve ser vivida e testemunhada antes pelo seu clero.
É necessário e urgente recuperar a compaixão. Pois ser compassivos é a única maneira de seguir Jesus Cristo e de nos parecermos com o Pai. A Igreja cristã perdeu a capacidade de atrair as pessoas, porque não levou a sério o sofrimento dos inocentes e deixou de solidarizar-se com as angústias dos pobres.
Precisamos continuar buscando caminhos, a partir da Igreja que cada vez tem menos poder de atração, ou devemos recuperar o Evangelho de Jesus como única força para transmitir e engendrar a fé? Hoje, o Evangelho se encontra aprisionado no interior de uma Igreja em crise, por isso é necessário e urgente recuperar o protagonismo do Evangelho.
Jesus Cristo no Evangelho é muito mais atual e real do que os sermões que nós, padres e bispos, damos. Deus não está em crise, nem está bloqueado. Jesus Cristo é o futuro da Igreja, um futuro “apaixonante”, mas para isso é necessário e urgente que seja o presente, Sua mensagem é necessária e urgente que seja vivida antes de testemunhada.
È necessário e urgente termos certeza do que somos, instrumentos de Deus, senão não teremos autoridade para pregarmos o Evangelho e ministrarmos os Sacramentos.
O Papa Francisco está inaugurando um tempo novo. Um novo estilo de Igreja simples, pobre, humilde, próxima e dialogante, que se preocupa com a felicidade do ser humano.
Se ele usa férula ou não, não é necessário nem urgente.
Se ele celebra de costas ou não, não é necessário nem urgente.
Se o Papa promove a mudança a partir de cima, nós devemos promover o Reino a partir de baixo. O Reino pretendido e anunciado no Evangelho de Jesus Cristo livre e libertador, o único Evangelho que há.
Isto sim é que é urgente e necessário...
Autor:Padre Antonio Piber.
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