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terça-feira, 18 de outubro de 2011

Valioso Indicativo



Valioso Indicativo


Nilza Teresa Rotter Pelá

de Ribeirão Preto, SP

Em visita ao Brasil, o historiador e sociólogo Paul Thompson da Universidade de Essex, na Inglaterra, deu uma entrevista á revista Exame (de 6 de setembro de 2000). Ele é considerado o pai da técnica de pesquisa conhecida como "história oral" e na citada entrevista relata um estudo que fez com populações de duas comunidades distintas de pescadores britânicos.

Descobriu que ao norte, nas ilhas Shetland os pais nunca batiam em seus filhos enquanto que no oeste da Escócia, os pais eram muito duros com suas crianças. As crianças de Shetland eram criadas com carinho, muito cedo eram estimuladas a serem independentes, as do oeste da Escócia viviam sob a dominação dos pais, eram ensinadas a apenas seguir ordens, e eram desencorajadas a fazer algo novo e diferente. Enquanto no oeste escocês a pesca declinava, nas ilhas Sheltland ia muito bem. Não é preciso dizer o quanto estas comunidades estavam economicamente diferentes e como o estilo de vida também era diferente.

Lendo esta reportagem lembrei-me de matéria publicada por Kardec em a Revista Espírita (fevereiro de 1864) intitulada "Primeiras lições de moral da infância" onde coloca que uma criança precisa "ser dotada de uma natureza excepcionalmente boa para resistir" as influências do meio onde vive, pois está "na idade mais impressionável e onde não podem encontrar o contra peso, nem da vontade, nem da experiência."

Nesta matéria Kardec aborda a questão da "generosidade forçada", quando se obriga a criança a fazer uma doação para a qual ela não esta pronta. Isto não levaria a criança a sentir o prazer de dar algo e a sentir felicidade que isto poderia lhe trazer.

Continuando é lembrado a questão de se colocar a criança em situação humilhante como forma de corrigir-lhe certas atitudes. Lembra que este processo nada de produtivo pode gerar, uma vez que desencadeia mecanismos defensivos que podem levar a atitudes ainda mais inadequadas.

Contava-me uma colega de profissão, que estagiando com alunos universitário da área da saúde em uma escola de periferia, presenciou um fato que muito bem ilustra esta situação. Dois meninos foram suspensos das aulas por indisciplina. Qual não foi a surpresa dela e de seus alunos quando no dia seguinte lá estavam os dois meninos sentados no pátio com os cadernos apoiados sobre as bolsas fazendo suas lições. Ao se aproximar um deles lhe pediu "tia passa uma continhas para eu fazer": tomou o caderno e atendeu o pedido. Não se contendo perguntou-lhe porque ali no pátio estava tão atento ao que estava fazendo se em sala de aula "bagunçava tanto". A resposta dada é para nossa reflexão "— porque aqui ninguém fica falando e fazendo barulho na minha cabeça". O que o menino precisava era de ambiente calmo para se concentrar, como não tinha aderia a "bagunça" e ainda perturbava mais que os outros.

Este fato, aparentemente simples, é valioso indicativo que, quando queremos ajudar alguém é necessário ir além das aparências, buscando no interior de cada ser os seus reais motivos que nem sempre são claros até para os próprios sujeitos. Quando se trata de crianças isto é ainda mais importante pois há as limitações próprias da infância, com muito bem coloca Kardec, como atrás citamos.

(Jornal Verdade e Luz Nº 177 de Outubro de 2000)


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