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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Ingratidão, o remédio mais sensitivo do amor

Terceiro Remédio
Ingratidão




Assim como os remédios mais eficazes são ordinariamente os mais violentos, assim a ingratidão é o remédio mais sensitivo do amor, e juntamente o mais efetivo. 
A virtude que lhe dá tamanha eficácia, se eu bem o considero, é ter este remédio da sua parte a razão. Diminuir o amor o tempo, esfriar o amor a ausência, é sem-razão de que todos se queixam; mas que a ingratidão mude o amor e o converta em aborrecimento, a mesma razão o aprova, o persuade, e parece que o manda. 
Que sentença mais justa que privar do amor a um ingrato? 
O tempo é natureza, a ausência pode ser força, a ingratidão sempre é delito.
 Se ponderarmos os efeitos de cada um destes contrários, acharemos que a ingratidão é o mais forte. 
O tempo tira ao amor a novidade, a ausência tira-lhe a comunicação, a ingratidão tira-lhe o motivo. 
De sorte que o amigo, por ser antigo, ou por estar ausente, não perde o merecimento de ser amado; se o deixamos de amar não é culpa sua, é injustiça nossa; porém, se foi ingrato, não só ficou indigno do mais tíbio amor, mas merecedor de todo o ódio. 
Finalmente o tempo e a ausência combatem o amor pela memória, a ingratidão pelo entendimento e pela vontade.
 E ferido o amor no cérebro, e ferido no coração, como pode viver? 
O exemplo que temos para justificar esta razão ainda é maior que os passados.

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