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quarta-feira, 31 de julho de 2013

- Lenda Simbólica


                         


Existe no folclore de várias nações do mundo antiga lenda que exprime comumente a
verdade de nossa vida.
Certo homem que pervagava, infeliz, padecendo intempérie e solidão, encontrou valiosa
pedra em que se refugiou, encantado.
A maneira de concha em posição vertical, o minúsculo penhasco protegia-o contra as bagas
de chuva, ofertando-lhe, ao mesmo tempo, o colo rijo sobre o qual vasta porção de folhas
secas lhe propiciava adequado ninho.
O atormentado viajor agarrou-se, contente, a semelhante habitação e, longe de consagrar-se
ao trabalho honesto para renová-la e engrandecê-la, confiou-se à pedintaria.
Além, jornadeavam companheiros de Humanidade em provações mais aflitivas que as dele,
contudo, acreditava-se o mais infortunado de todos os seres e preferia examiná-los através
da inveja e da irritação.

Adiante, sorria a gleba luxuriosa, convidando-o à sementeira produtiva, no entanto, ocultava
as mãos nos andrajos que lhe cobriam a pele, alongando-as simplesmente para esmolar.
Na imensidão do céu, cada manhã, surgia o Sol, como glorioso ministro da Luz Divina,
exortando-o ao labor digno, mas o desditoso admitia-se incapacitado e enfermo de tal sorte,
que não se atrevia a deixar a pedra protetora.
Ouvia de lábios benevolentes incessantes apelos à própria renovação, a fim de exercitar-se
na prática do bem, a favor de si mesmo, mas, extremamente cristalizado na ociosidade e no
desalento, replicava com evasivas, definindo-se como sofredor irremediável, vomitando
queixas ou disparando condenações.
Não podia trabalhar por faltarem-lhe recursos, não estudava por fugir-lhe o dinheiro, não
ajudava de modo algum a ninguém por ser pobre até à miserabilidade completa, dizia entre
sucessivas lamentações.
Rogava pão, suplicava remédio, mendigava socorro de todo gênero, acusando o destino e
insultando o próximo. . .
Por mais de meio século demorou-se na pedra muda e hospitaleira, até que a morte lhe
visitou os farrapos, arrebatando-o da carne às surpresas do seu reino.
Foi então que mãos operosas removeram o enorme calhau para que a higiene retornasse à
paisagem, encontrando sob a pequena rocha granítica um imenso tesouro de moedas e
jóias, suscetível de assegurar a evolução e o conforto de grande comunidade.
O devoto da inércia experimentara desolação e necessidade, por toda a existência, sobre um
leito de inimaginável riqueza.
Assim somos quase todos nós, durante a reencarnação. .
Almas famintas de progresso e acrisolamento, colamo-nos ao grabato físico para a aquisição
de conhecimento e virtude, experiência e sublimação, mas, muito longe de entender a nossa
divina oportunidade, desertamos da luta e viajamos no mundo à feição de mendigos
caprichosos e descontentes, albergando amarguras e lágrimas, no culto disfarçado da
rebeldia.
E, olvidando nossos braços que podem agir para o bem, estendemo-los não para dar e sim
para recolher, pedindo, suplicando, retendo, reclamando e exigindo, até que chega o
momento em que a morte nos faz conhecer o tesouro que desprezamos.
Se a lenda que repetimos pode merecer-te atenção, aproveita o aconchego do corpo a que
te acolhes, entregando-te à construção do bem por amor ao bem, na certeza de que a tua
passagem na Terra vale por generosa bolsa de estudo, e de que amanhã regressarás para o
ajuste de contas em tua esfera de origem.

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