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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

E se o Brasil fosse evangelico?‏


O Brasil é do Senhor Jesus?
Deus nos livre de sermos um país evangélico!!
 
Recebi, logo depois da Missa, hoje de manhã, a visita de duas senhoras, não na igreja, mas no portão da casa paroquial, de cara identifiquei-as como testemunhas de jeová (tive vontade de fazer a piada: “mas eu não vi a briga..., mas como sou Padre, tenho que me privar destes inocentes e bobos prazeres temperados com certo humor nem tão inocente...); elas me perguntaram se eu estaria disponível para um breve estudo bíblico (tive vontade de mandá-las para o tanque, lavar roupa, mas sou Padre, tenho que me privar...), como elas disseram que seria breve, aceitei e, como não sou tão santo assim (graças a Deus!!), disse: “Se for realmente breve, estou disposto”, elas então, sem manusear a Bíblia e sim um maço de revistas, me perguntaram se eu sabia “que Jesus iria voltar?”, sem dar tempo a elas, fiz varias citações de versículos sobre o “Orai e vigiai”; “não sabeis o dia nem a hora”, e, sobretudo o do Evangelho da Missa de Hoje, Primeiro Domingo do Advento, segundo o Missal Brasileiro... Disse, sem deixá-las falar, que oraria para que elas se convertessem, conhecessem Jesus, O aceitassem e, sinceramente, dei a elas a benção sacerdotal Trinitária, invocando a Nossa Senhora Aparecida, São Miguel Arcanjo e São Carlos do Brasil, como fizera há pouco, para os fieis católicos brasileiros, na igreja...
Mas a visita destas equivocadas e deprimentes senhoras fez-me pensar e o que pensei, escrevo aqui:
E a minha reação foi sentir pavor de o Brasil tornar-se evangélico. Sei que os evangélicos sonham e trabalham para que o Brasil se converta em massa num país legitimamente evangélico.
Quando afirmo que o sonho é que impere o movimento evangélico, não me refiro ao cristianismo na sua forma do protestantismo, seja luterano, anglicano, presbiteriano, batista, etc., mas a esse subgrupo do cristianismo e do protestantismo conhecido como “Movimento Evangélico”. E a esse movimento não interessa que haja um veloz crescimento entre católicos ou ortodoxos e que os valores do Evangelho sejam assimilados pela sociedade brasileira através destas igrejas; pois para eles “aceitar Jesus”, significa virar “crente”, com a cara dos evangélicos, os valores (tantas vezes pseudo) e a moral (tantas vezes falsa). Deus nos livre!! Cruiz credo!!
Avanços numéricos de evangélicos em algumas áreas já dão uma boa idéia de como seria desastroso se isso acontecesse como um todo no Brasil.
Imagino e tremo. Tremo só de pensar em como estas pessoas tratariam Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Maria Gadu, Mart'nalia, Chico Buarque? Não gosto de pensar no destino de poesias sensuais como “Carinhoso” do Pixinguinha ou “Tatuagem” do Chico. Será que prevaleceriam as pobres (no sentido de pobre mesmo) poesias do cancioneiro gospel e suas bandas nauseabundas? As rádios tocariam sem parar “Vou buscar o que é meu”, “Rompendo em Fé”?
Haveria um cerco aos boêmios. Novos Torquemadas seriam implacáveis e perderíamos todo o acervo do Vinicius de Moraes. Quem, entre estes “crentes”, publicaria a poesia de um ateu como Carlos Drummond de Andrade?
Como ficaria a Universidade em um Brasil dominado por evangélicos? Os chanceleres denominacionais cresceriam, como verdadeiros fiscais, para que se desqualificasse o alucinado Charles Darwin. Facilmente se restabeleceria o criacionismo como disciplina obrigatória em faculdades de medicina, biologia, veterinária. Nietzsche jazeria na categoria dos hereges loucos e Jacques Derridá nunca seria traduzido para o português. Bolsonaro, ou outro do seu (baixo) nível, seria eleito presidente da república. Direitos Humanos seriam tomados como coisa do demônio... A imprensa seria sim censurada...
Mozart, Gauguin, Michelangelo, Picasso? No máximo, pesquisados como desajustados para ganharem o rótulo de loucos, pederastas, hereges.
Um Brasil evangélico não teria folclore. Acabaria o Bumba-meu-boi, o Frevo, o Vatapá. Negrinho do Pastoreio não seria estudado nas escolas. As churrascarias não seriam barulhentas. O futebol morreria. Todos seriam proibidos de ir ao estádio ou de ligar a televisão no domingo. E a famosa pelada de várzea aconteceria quando?
Um Brasil evangélico significaria que o fisiologismo político e a corrupção prevaleceram; basta uma espiada no histórico de Suas Excelências nas Câmaras, Assembléias e Gabinetes para saber que isso aconteceria, basta observarem o que “Suas Excelências” das famigeradas bancadas evangélicas propõem na Câmara federal, ou no caso, não propõem nada, mas boicotam e trancam a pauta das votações no Congresso Federal...
Um Brasil evangélico significaria o triunfo do “american way of life”, já que muito do que se entende por espiritualidade e moralidade evangélica não passa de cópia mal feita da cultura do Norte, de pastores pentecostais televisivos dos anos 70 e 80, que desapareceram devido aos escândalos financeiros e sexuais que provocaram, mas deixaram os frutos podres por aqui. Um Brasil evangélico acirraria o preconceito contra as Igrejas Católicas e os cultos de matriz africana e viria a criar uma elite religiosa, “os ungidos”, mais perversa que a dos aiatolás iranianos.
Cada vez que um evangélico critica a Rede Globo eu me pergunto: como seria uma emissora liderada por eles? Adianto a resposta: insípida, brega, chata, horrorosa, irritante.
Prefiro, sem pestanejar, textos do Gabriel Garcia Márquez, do Mia Couto, do Victor Hugo, da Cecília Meireles, do Antonio Callado, a qualquer livro da série “Deixados para Trás” ou do Max Lucado e outros editados por editoras evangélicas.
Toda a teocracia se tornará totalitária, toda a tentativa de homogeneizar a cultura, obscurantista, e todo o esforço de higienizar os costumes, moralista. Todo o discurso político deles é hipócrita e mentiroso, basta observarmos aonde surgiu a historia de que a Presidenta Dilma, quando candidata, teria dito que “nem Jesus Cristo me tira essa eleição”...
O projeto cristão visa preparar para a vida e a vida abundante. Cristo não pretendeu anular os costumes dos povos não-judeus. Daí ele dizer que a fé de um centurião romano, e entre seus criteriosos e farisaicos contemporâneos ninguém tinha uma espiritualidade digna de elogio como aquele soldado que amava e cuidava do escravo.
Levar a boa notícia não significa exportar uma cultura, criar um dialeto, forçar uma ética e uma estética. Evangelizar é anunciar que todos podem continuar a costurar, compor, escrever, brincar, dançar, encenar, praticar a justiça, criar meios de solidariedade e viver sua sexualidade; Deus não é rival da liberdade humana, mas seu maior incentivador, da liberdade e da diversidade humana.
Portanto, Deus nos livre de um Brasil evangélico.
 
Padre Antonio
Diocese de Itumbiara
Igreja Católica Apostólica Brasileira
 
 
 
Padre Antonio Piber
Catedral Menino Jesus
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"Mas que poderei retribuir ao Senhor por tudo o que Ele me fez?
Erguerei o cálice da Salvação, invocando o Nome do Senhor, no meio de todo o Seu povo" (Sl 116)

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