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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O que separa os mortos dos vivos




Segundo Remédio

                                  
Ausência
Muitas enfermidades se curam só com a mudança do ar; o amor com a da terra. 
E o amor como a lua que, em havendo terra em meio, dai-o por eclipsado. 
E que terra há que não seja a terra do esquecimento, se vos passastes a outra terra? 
Se os mortos são tão esquecidos, havendo tão pouca terra entre eles e os vivos, que podem esperar, e que se pode esperar dos ausentes? 


Se quatro palmos de terra causam tais efeitos, tantas léguas que farão?
 Em os longes, passando de tiro de seta, não chegam lá as forças do amor.
 Os filósofos definiram a morte pela ausência: Mors est absentia animae a corpore. 
Despediram-se com grandes demonstrações de afeto os que muito se amavam, apartaram-se enfim, e, se tomardes logo o pulso ao mais enternecido, achareis que palpitam no coração as saudades, que rebentam nos olhos as lágrimas, e que saem da boca alguns suspiros, que são as últimas respirações do amor.
 Mas, se tomardes depois destes ofícios de corpo presente, que achareis?
 Os olhos enxutos, a boca muda, o coração sossegado: tudo esquecimento, tudo frieza. 
Fez a ausência seu ofício, como a morte: apartou, e depois de apartar, esfriou.o frieza.
 Fez a ausência seu ofício, como a morte: apartou, e depois de apartar, esfriou.

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