Gravação cedida por D Lilian, sobre palestras, entrevistas e tese a respeito do Caboclo das 7 Encruzilhadas.
DEMÉTRIOMuitas pessoas põem uma placa, Tenda de Umbanda, e a federação aceita. O cidadão joga Búzios, Umbanda não tem Búzios, joga baralho, Umbanda não tem baralho, lê no copo d’água, Umbanda não lê em copo d’água, lê em bola de cristal, Umbanda não lê em bola de cristal. Umbanda não faz nada disto, mas a casa do cidadão é tenda de Umbanda.
Então estamos aqui defendendo a Umbanda na tese do Pina.
Um dos maiores escritores sobre ramificações religiosas africanas, dentro do Brasil, foi Nina Rodrigues, escreveu até 1906 vários compêndios, discriminando determinadas nações africanas que viriam como escravos para o Brasil e dentro desta discriminação procurou sintetizar a parte religiosa de cada tribo, ou de cada nação, ou de cada dialeto. Então até 1908, eu quero que os senhores atentem bem para isto, porque é uma pesquisa que foi realizada por nós, pelo superior órgão de Umbanda do estado de São Paulo, foi uma tese apresentada em nosso congresso paulista e foi uma tese definida no próprio Rio de Janeiro entre todos os presidentes de federações, que ninguém, nenhum presidente de federação, nenhum chefe de terreiro dos mais antigos, vivo como Beijamim, Tancredo e outros mais,conheceram qualquer elemento que praticasse Umbanda antes de Zélio de Moraes.
Então em 1908, exatamente em 15 de novembro, o ano que vem nós estaremos comemorando 70 anos de Umbanda no Brasil, apareceu umCaboclo que, agora vamos ver aqui a questão do Osvaldo que classificou-o em duas posições; Primeiro como Caboclo de mesa branca e segundo como Exú, gostaria que você desse está explanação em público para que pudéssemos dar a definição dela.
OSVALDO
Demétrio, ocorre que conforme foi explicado, uma explicação que eu ouço de 10 em 10 dias, é a explicação da manifestação deste Caboclo, que foi justamente em 15 de novembro de 1908 no Rio de Janeiro. Então você veja, ele se manifestou numa mesa Kardecista por auto confirmação, para mostrar justamente aos membros da mesa que ele existia e que tinha que ser respeitado como tal.
Utilizou uma criatura que não andava, que era um instrumento de auto confirmação, para fazer-se respeitar, já que ele não tinha o poder da linguagem, em termos que não fosse de concreto, para fazer-se respeitar. Eu o classifico como se fosse um Caboclo sensacional, fora de série. Agora no meu posicionamento, na minha nação, eu o posicionaria como sendo um Orixá ou seja Exú Orixá ou em Bará, por 7 encruzilhadas.
Bem está é a definição do Osvaldo, agora vamos a nossa definição.
Eu digo nossa e sou obrigado a defender o Caboclo das 7 Encruzilhadas aqui, porque tive a oportunidade de conviver com ele por algumas sessões em São Paulo, e tive a oportunidade de conviver com ele por alguns trabalhos na Cachoeira de Macacu no Rio de Janeiro.
Nós não poderíamos de maneira alguma, aceitar a definição de Caboclo de mesa branca (grifo nosso), porque a própria mesa branca não o aceitou na sua manifestação.
Qual a explicação para que tenha se manifestado primeiro numa mesa Kardecista?
Bem, se você pegar um médium que esteja atuado, mas que não houve possibilidade da manifestação por vários motivos, ou o médium não estava capacitado, ou não tivesse condição ou coisa que o valha, este médium tanto pode bater no Candomblé, como pode bater na Umbanda, como pode bater às portas da Igreja Católica, como poderá bater nos Kardecistas.
Então vamos que um destes médiuns bata a sua casa de nação, ele tem a mediunidade, você vai recebê-lo, ele se manifesta em sua mediunidade em sua casa porque encontrou campo propício certo?
Vamos notar que Zélio de Moraes, aos 17 anos, descendente de uma família cujos membros eram médicos e sacerdotes, estava inclusive sendo levado para um Instituto Psiquiátrico para poder fazer tratamento de sanidade mental, então ele não tinha campo para agir.
Zélio foi levado a uma sessão Kardecista, então o Caboclo encontrou campo para se manifestar não foi aceito.
Sendo assim o Caboclo das 7 Encruzilhadas, com sua Luz, com sua magnitude, porque eu tive a oportunidade de conviver com ele e sei, conheci a sua força espiritual, ele poderia talvez prever o que seria a Umbanda, o que é a Umbanda hoje, e o que vai ser daqui a 10, 20, 50 anos, mais jamais até aquela data ouviu-se falar o termo Umbanda, isto eu discuto, não há comprovação escrita, então foi ali que nasceu o termo Umbanda, mas também o Caboclo das 7 Encruzilhadas na sua terminologia, não demonstrou Umbanda religião isto ou aquilo, ou Umbanda quer dizer um juntamento de grupo, não fechou a questão em si, ele deu nome e dali pra frente se passou usar Umbanda para aquele sistema de trabalhoespiritualista que não fosse africanista, que não fosse de mesa branca, mas que fosse diferente, com Caboclo nato.
Então se trabalhou com Caboclo, com algum tempo é que começou a manifestar o Preto-Velho e depois a criança.
Mas a Umbanda, o termo Umbanda registrado, pertence ao Caboclo das 7 Encruzilhadas, registrado porque a 1ª tenda de Umbanda registrada em cartório público foi a tenda de Nossa Senhora da Piedade, no Rio de Janeiro, em 16 de novembro de l908.
Bem, outra dúvida é, a Umbanda adotou o sistema encruzilhada que o Caboclo está dizendo, esta encruzilhada é a que adotamos, de rua ou de cruz? (gifo nosso)
A título de esclarecimento, se nós formos a um trabalho de mata com um Caboclo, o que é que faz um Caboclo pra fazer uma oferenda de mata de cruzeiro, simplesmente pega a mão, puxa as folhas da árvore e abre uma encruzilhada, faz a oferenda aí, quer dizer, este é o símbolo da encruzilhada.
O Osvaldo chegou a conclusão que o Caboclo não poderia ser Kardecista pois não foi aceito pelos Kardecistas, não poderia ser Exú porque se manifestou como Caboclo. dando o nome de um Caboclo e métodos de Caboclo.
O Osvaldo foi defensor dos atabaques no Rio de Janeiro para tocar em horas que a polícia proibia.
Eu tive a oportunidade de conviver com o Caboclo das 7 Encruzilhadas.
Um dos terreiros que eu dirijo, tem 21 anos de porta aberta, Chama-se Tenda de Umbanda São Cipriano, eu tive a oportunidade neste terreiro de adotar tudo aquilo que eu aprendi com o Caboclo das 7 Encruzilhadas que em São Paulo estava sempre presente dentro da Tenda de Oxalá de São Benedito, que era dirigido pelo falecido Freitas e por um chefe de terreiro que recebia o Caboclo Pena Verde e que trouxe para São Paulo talvez até a década de 50 ou 55 o maior número de chefes de terreiro que foram feitos dentro da casa de Oxalá de São Benedito, que foi o maior terreiro de Umbanda já instalado em São Paulo pelo número de médiuns participantes.
Alí nós tivemos convivência com Zélio de Moraes.
Na minha tenda ,não se bate atabaques, não se bate palmas e se trabalha de acordo com o que eu aprendi com o Caboclo das 7 Encruzilhadas. (grifo nosso)
Eu sou presidente de uma Federação que tem 120 tendas federadas e estas tendas batem atabaques, batem palmas e fazem aquilo que elas acham que tem que fazer, eu aprendi de uma maneira, não vou impor em minha federação que ele vá fazer aquilo que eu faço em minha casa, eu faço o que aprendi e que para mim deu certo, pode ser que para outros não de certo.
Meu terreiro tem atabaques e só bate em dia de festa, ou em dia que vai para a mata, ou numa festividade em Santos, mas dentro do terreiro não se bate atabaques.
Bate-se atabaques nestes dias de festividade como uma vibração diferente da do trabalho espiritual que eu penso, quanto mais concentração se tiver dentro de um terreiro, melhor se pode trabalhar um médium, melhor pode ser fortalecida a corrente mediúnica para as exigências da hora, que é justamente o passe e a consulta, ninguém vai a um terreiro de Umbanda ver se o Caboclo é bonito, as pessoas vão para receber passe, para receber consulta, para receber uma palavra de amor, para receber mensagens, ninguém vai a terreiro de Umbanda porque o terreiro é bonito.
Os princípios da Umbanda os quais foram ditados pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas, o termo Umbanda, religiosamente falando, não tem atabaques, não tem palma, não tem dança, isto não quer dizer que a Umbanda não deve evoluir, não deva se adaptar como se adaptou o Caboclo das 7 Encruzilhadas com o Preto-Velho, e automaticamente com muitas raízes africanase muitas mirongas africanas. (grifo nosso)
A Umbanda deve evoluir porque senão cai na estagnação e aí perde adeptos.
Então a necessidade é que ela evolua, mas uma evolução com uma certa discriminação, uma evolução que vá puxar a evolução do ser humano, essa é a fase importante da Umbanda, é o que faz com que os terreiros estejam sempre cheios.
MOABI CALDAS
Salve o sol e salve a lua.
Em primeiro lugar quero lembrar a todos que não existe puríssimo religioso, todas as religiões são formadas de pedacinhos umas das outras, e mesmo assim, no seu crescimento, na sua Gênese, elas se modificam, por exemplo, em 1843 foi publicado na França o Livro dos Espíritos de Allan Kardec, e fundada naquela época a sociedade dos estudos Espíritas contando com a colaboração de notabilidades do mundo europeu, hoje o espiritismo não existe mais na França, existem círculos científicos que fazem experiências, mas como nós entendemos o espiritismo, como praticamos o espiritismo de Kardec, ele não mais existe ali.
A igreja de Roma não foi fundada por São Pedro porque ele nunca esteve em Roma, foi fundada 400 anos após a morte de Cristo pelo Imperador Constantino, que deu assim um tremendo golpe político, colocando a teara papal na cabeça criando um mecanismo completamente diferente do até então preconizado.
A palavra Umbanda é uma palavra milenar, ele é inserida no dialeto Kimbundo.
Há documentos neste sentido inclusive na biblioteca nacional, é uma palavra raramente utilizada, mas significa arte de curar.
O Caboclo das 7 Encruzilhadas não foi muito bem recebido em 1908 na sede da Federação Espírita Kardecista pelo seguinte, naquela época, os poucos Espíritas que existiam seguindo a orientação européia, admitiam que a alma depois de ultrapassar o estágio animal estava no campo do negro estando muito ligados ainda pela ancestralidade animal, seriam almas muito primárias ainda que não teriam nada a dar, atrasadas, rudimentares e por isso nas sessões não se manifestavam os pretos velhos e nem os Caboclos a não ser como exceção. Quando o presidente da mesa perguntou o nome, a entidade respondeu através de Zélio, que tinha 17 anos, era a primeira vez que se comunicavam, era a primeira vez que ostencivamente ele incorporava, porque até então não havia incorporado. Na véspera Zélio recebera em sonho a visão de um índio que dissera que ia curá-lo instantaneamente e ele ficou curado, e a cidade toda ficou em polvorosa, e queriam resolver a situação e apelaram para a Federação Espírita porque havia aparecido um índio, em sonho, para um rapaz paralítico.
Então ele disse, se querem um nome então será este, Caboclo das 7 Encruzilhadas, porque não existiram encruzilhadas fechadas para mim, mas por favor, entendam uma coisa importantíssima, a linguagem simbólica que ele usou, a encruzilhada a que ele se refere não é a encruzilhada do chão, da terra batida, do mato, de cruzeiro é a encruzilhada do destino, a encruzilhada da vida psicológica de cada um de nós. (grifo nosso)
Quer dizer, a Umbanda a partir daquele momento não teria encruzilhada psicológicas porque o objetivo da Umbanda é nos libertar, nos esclarecer, nos orientar.
Foi isto que ele quis dizer quando afirmou ser o Caboclo das 7 Encruzilhadas. Preto-Velho, aquilo era apenas uma roupagem, ele foi assessorado depois nos trabalhos, pelos africanos, mas vamos nos vincular a roupagem porque não existe isto de preto, branco ou vermelho, o espírito na sua ascensão, no seu progresso, ele encarna na raça que melhor lhe convêm, na raça que melhor condiz com a sua situação.
Quanto aos rituais, estes, querem queiramos quer não, terá que se evoluir, que se libertar de uma série de primarismos.
Fonte:
http://www.povodearuanda.com.br/?m=200901
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