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sexta-feira, 2 de março de 2012

"EU " CONTRA "EU"



"EU "  CONTRA  "EU"





 Quando o Homem ainda jovem desejou cometer  o primeiro desatino, aproximou- se o Bom
Senso e observou-lhe.

 -Detém-te! Por que te confias assim ao mal?

 O interpelado, porém respondeu orgulhoso:

 -Eu quero.

 Passando, mais tarde, à condição de perdulário e adotando a extravagância e a loucura por
normas de viver, apareceu a Ponderação e aconselhou-o:

 -Pára! Por que te consagras, desse modo, ao gasto inconseqüente?

 Ele, contudo, esclareceu jactancioso:

 -Eu posso.

 Mais tarde, mobilizando os outros a serviço da pr ópria insensatez, recebeu a visita da
Humildade, que lhe rogou, piedosa:

 -Reflete! Por que te não compadeces dos mais fracos e dos mais ignorantes?

 O infeliz, todavia, redargüiu colérico.

 -Eu mando.

 Absorvendo imensos recursos, inutilmente, quando poderia beneficiar a coletividade,
abeirou-se dele o Amor e pediu:

 -Modifica-te! Sê caridoso! Como podes reter o rio das oportunidades sem socorr er o campo
das necessidades alheias?

 E o mísero informou:

 -Eu ordeno.

 Praticando atos condenáveis, que o levaram ao pelourinho da desaprovação pública, a
Justiça acercou-se dele e recomendou?



 -Não prossigas! Não te dói ferir tanta gente?

 O infortunado, entretanto, acentuou implacável:

 -Eu exijo.

 E assim viveu o Homem, acreditando-se o centro do Universo, r eclamando, opr imindo e
dominando, sem ouvir as sugestões das virtudes que iluminam a Ter ra, até que, um dia, a
Morte o pr ocurou e lhe impôs a entrega do corpo físico.

 O desditoso entendeu a gr avidade do acontecimento, prosternou-se diante dela e
considerou:

 -Morte, por que me buscas?

 -Eu quero-disse ela.

 -Por que me constranges a aceitar-te?-gemeu triste.

 -Eu posso-retrucou a visitante.

 -Como podes atacar-me deste modo?

 -Eu mando.

 -Que poderes te movem?

 -Eu ordeno.

 -Defender-me-ei contra ti -clamou o Homem, desesperado-, duelarei e r eceberás a minha
maldição!...

 Mas a Morte sorriu imperturbável, e afirmou:

 -Eu exijo.

 E, na luta do "eu", contra "eu", conduziu-o à casa da Verdade para maiores lições.






Fonte: Contos e Apólogos - Irmão X- Psicografia de  F.C. Xavie

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