O balde no pescoço
Nilza Teresa Rotter Pelá
de Ribeirão Preto, SP
Há muitos anos moramos em um mesmo
bairro, para lá mudamos com uma filha pequena e alguns anos depois nasceu o
segundo filho. Como nossa família muitas outras foram chegando ao bairro e as
famílias foram crescendo e as crianças também. Formaram um grupo que passamos a
chamar "os meninos da rua" (da rua e não de rua). A esse ativo grupo
de crianças, aos poucos, foi juntando novos elementos: os cachorros das
famílias. Pequenos no começo foram se diferenciando, assim como seus donos. Os
meninos tornaram-se adultos jovens com opções diversificadas, uns foram para a
faculdade, outros buscaram empregos ao término do colegial e alguns poucos
enveredaram por caminhos inadequados. Os cachorros tornaram-se velhos e muitos
foram acometidos por doenças e tiveram que serem operados.
Hoje é difícil ver os
"meninos" andando pelo bairro, entretanto é freqüente ver os
cachorros caminhando com um balde, com o fundo cortado, preso ao pescoço.
Na primeira vez que vimos esta imagem
surrealista ficamos surpreendidos, depois viemos saber que isto era um
mecanismo de proteção para o animal, pois operado ficava a lamber a ferida
cirúrgica e isto podia ser prejudicial à cicatrização.
Com a aproximação do
"ano novo", quando nos propomos a reflexões mais profundas, a imagem
do cão com o balde no pescoço tem estado muito presente sobretudo porque temos
analisado que em algumas circunstâncias nós os humanos necessitamos de
"baldes" que nos ajudem a evitar males maiores. Quando não
conseguimos modificar hábitos nocivos, por livre e espontânea vontade vem o
médico e precisa colocar o balde simbólico em nosso pescoço, proibindo isso ou
aquilo. Como nem sempre é suficiente começamos a sentir a conseqüência e então
por medo começamos a mudar.
Muda-se não porque está convencido
que isto é o melhor, mas pelo medo da conseqüência. Neste estado de coisas é o
balde simbólico que nos contêm e não nossa modificação de atitude. É o glutão
que faz o regime esperando o dia da alta para comer tudo que lhe foi proibido,
o fumante que fuma escondido como se assim enganasse o médico e familiares
quando na verdade está a enganar a si mesmo.
Muitas vezes há necessidade de nascer
para nova experiência terrena com o balde amarrado ao pescoço para que mal
maior não sobrevenha.
Na questão 852 de O Livro dos
Espíritos, Kardec pergunta: "Há pessoas que parecem perseguidas por uma
fatalidade, independente da maneira que procedem. Não lhes estará no destino o
infortúnio?" R: "São, talvez, provas que lhes caiba sofrer e que elas
escolheram. Porém, ainda aqui lançais à conta do destino o que mais das vezes é
apenas conseqüência da vossas faltas. Trata de ter pura a consciência em meio
dos males que te afligem e já bastante consolado te sentirás."
As limitações educativas, ainda
necessárias em nosso atual estágio evolutivo funcionam com baldes a evitar
males maiores. Rebelar-se com estas situações limitantes que visam conter
nossos impulsos inferiores podem nos ferir inutilmente nada acrescentando ao
nosso patrimônio espiritual.
O balde simbólico, leia-se as
limitações, tem como objetivo uma reformulação de nossos valores de vida
acelerando nossa romagem evolutiva.
Um rei da Inglaterra, a cada noite
pedia à Deus "ensina-me a não chorar pela luta, nem pelo leite
derramado" e os alcoólicos anônimos oram pedindo forças para mudar o que
pode ser mudado e para aceitar o que não pode.
Quando o "balde" aparecer,
antes de lutar com ele valeria a pena perguntar-se qual o ensinamento que nos
trás.
(Jornal Verdade e Luz Nº 179 de
Dezembro de 2000)
Origem destes artigos Aqui:
O balde no pescoço
Nilza Teresa Rotter Pelá
de Ribeirão Preto, SP
Há muitos anos moramos em um mesmo
bairro, para lá mudamos com uma filha pequena e alguns anos depois nasceu o
segundo filho. Como nossa família muitas outras foram chegando ao bairro e as
famílias foram crescendo e as crianças também. Formaram um grupo que passamos a
chamar "os meninos da rua" (da rua e não de rua). A esse ativo grupo
de crianças, aos poucos, foi juntando novos elementos: os cachorros das
famílias. Pequenos no começo foram se diferenciando, assim como seus donos. Os
meninos tornaram-se adultos jovens com opções diversificadas, uns foram para a
faculdade, outros buscaram empregos ao término do colegial e alguns poucos
enveredaram por caminhos inadequados. Os cachorros tornaram-se velhos e muitos
foram acometidos por doenças e tiveram que serem operados.
Hoje é difícil ver os
"meninos" andando pelo bairro, entretanto é freqüente ver os
cachorros caminhando com um balde, com o fundo cortado, preso ao pescoço.
Na primeira vez que vimos esta imagem
surrealista ficamos surpreendidos, depois viemos saber que isto era um
mecanismo de proteção para o animal, pois operado ficava a lamber a ferida
cirúrgica e isto podia ser prejudicial à cicatrização.
Com a aproximação do
"ano novo", quando nos propomos a reflexões mais profundas, a imagem
do cão com o balde no pescoço tem estado muito presente sobretudo porque temos
analisado que em algumas circunstâncias nós os humanos necessitamos de
"baldes" que nos ajudem a evitar males maiores. Quando não
conseguimos modificar hábitos nocivos, por livre e espontânea vontade vem o
médico e precisa colocar o balde simbólico em nosso pescoço, proibindo isso ou
aquilo. Como nem sempre é suficiente começamos a sentir a conseqüência e então
por medo começamos a mudar.
Muda-se não porque está convencido
que isto é o melhor, mas pelo medo da conseqüência. Neste estado de coisas é o
balde simbólico que nos contêm e não nossa modificação de atitude. É o glutão
que faz o regime esperando o dia da alta para comer tudo que lhe foi proibido,
o fumante que fuma escondido como se assim enganasse o médico e familiares
quando na verdade está a enganar a si mesmo.
Muitas vezes há necessidade de nascer
para nova experiência terrena com o balde amarrado ao pescoço para que mal
maior não sobrevenha.
Na questão 852 de O Livro dos
Espíritos, Kardec pergunta: "Há pessoas que parecem perseguidas por uma
fatalidade, independente da maneira que procedem. Não lhes estará no destino o
infortúnio?" R: "São, talvez, provas que lhes caiba sofrer e que elas
escolheram. Porém, ainda aqui lançais à conta do destino o que mais das vezes é
apenas conseqüência da vossas faltas. Trata de ter pura a consciência em meio
dos males que te afligem e já bastante consolado te sentirás."
As limitações educativas, ainda
necessárias em nosso atual estágio evolutivo funcionam com baldes a evitar
males maiores. Rebelar-se com estas situações limitantes que visam conter
nossos impulsos inferiores podem nos ferir inutilmente nada acrescentando ao
nosso patrimônio espiritual.
O balde simbólico, leia-se as
limitações, tem como objetivo uma reformulação de nossos valores de vida
acelerando nossa romagem evolutiva.
Um rei da Inglaterra, a cada noite
pedia à Deus "ensina-me a não chorar pela luta, nem pelo leite
derramado" e os alcoólicos anônimos oram pedindo forças para mudar o que
pode ser mudado e para aceitar o que não pode.
Quando o "balde" aparecer,
antes de lutar com ele valeria a pena perguntar-se qual o ensinamento que nos
trás.
(Jornal Verdade e Luz Nº 179 de
Dezembro de 2000)
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