O
difícil aprendizado de viver em sociedade
Nilza Teresa Rotter Pelá
de Ribeirão Preto, SP
Diariamente presenciamos na mídia e no
cotidiano de nossas vidas o desrespeito ao direito do outro, quer seja esse
outro uma pessoa, um grupo, uma etnia ou mesmo uma nação.
Alguns episódios são de extrema violência
gerando indignação e até intervenção armada de forças internacionais, outras
são sutis passando desapercebida até para os mais próximos.
O olhar percorrendo a história da humanidade
revela que este desrespeito assume vestes diferenciadas, mas, também revela
sempre a presença do egoísmo como pano de fundo das diferentes manifestações.
A respeito do egoísmo assim se expressa Kardec
em Obras Póstumas em sua dissertação O Egoísmo e o Orgulho:
"O egoísmo e o orgulho têm origem num
sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos têm sua
utilidade e sua ração de ser, pois Deus nada faz que seja inútil. Deus não
criou o mal. É o homem que o causa pelo abuso dos dons de Deus, em virtude do
livre arbítrio que, exercido dentro dos justos limites, é um sentimento bom.
Seu uso exagerado é que o torna mau e pernicioso."
Podemos perceber que o instinto de conservação
desencadeia manifestações extremamente individualistas na pessoa que sente que
sua integridade está ameaçada, assim a disputa fica exacerbada quando um
indivíduo percebe que o outro pode lhe tirar o que lhe é essencial para a
sobrevivência. Foi este estilo de vida que caracterizou os primeiros estádios
evolutivos do ser humano.
À medida que o estilo de vida foi se
modificando o ser humano apropriou-se dos avanços tecnológicos para assegurar
sua alimentação, abrigo e mesmo sua integridade física.
A agricultura forneceu-lhe mais alimentos que o
necessário; as técnicas de construção, ambientes cada vez mais espaçosos e a
indústria forneceram-lhe maneiras requintadas de defesa de sua pessoa e de seus
espaços.
Evoluiu intelectualmente, mas a evolução moral
não acompanhou este desenvolvimento. TER passou a ser seu objetivo de vida,
agora não mais porque preciso mais porque quero independente de estar fazendo
falta ao outro. Como diz Kardec acima citado, é o exagero.
Em Lei de Conservação, Kardec formula sete
questões e dois desdobramentos sobre os gozos dos bens terrenos e sobre o
necessário e o supérfluo, nas respostas dos Espíritos evidencia-se que as
necessidades humanas modificam-se com a evolução social mas, ainda assim os
vícios criam necessidades artificiais.
São essas necessidades artificiais nascidas da
percepção de superioridade dos demais achando que tem mais direitos e
ofendendo-se com qualquer coisa que a seu ver o esteja lesando" que
caracterizam o uso exagerado que é mau e pernicioso.
É amplamente conhecido o adágio que nosso
direito termina quando começa o direito do outro, bem como que o que é bem
coletivo não pode ser usado exclusivamente em benefício pessoal.
A primeira vista e conceitualmente isto parece
óbvio, entretanto o exercício destes dois paradigmas resolveria na quase
totalidade grandes problemas do viver em sociedade. Pois se ainda não o amo
pelo menos eu o respeito
A todos nos ocorre as imagens das CPIs dos
poderes públicos, mas é preciso ir além, pois uma grande parte dos indivíduos
já não cometem essa atrocidades. Assim poderíamos pensar que desta já nos
livramos, o que não podemos esquecer é que quando atingimos este nível esta na
hora de "aparar as rebarbas."
É um processo de refinamento tal como é o
desenvolvimento de nossa psicomotricidade, primeiro os grandes movimentos ,
depois os mais finos e sutis, primeiro aprendo a não lesar meu próximo, depois
a não magoá-lo por palavras ou gestos.
Assim entendendo, cuido de meu espaço e de meus
direitos, mas minha ação é pautada levando em consideração que nem sempre eu
venho em primeiro lugar, que algumas vezes é a vez do outro, como em outra é a
minha vez.
Ilustrando este aspecto podemos colocar a
homenagem que os alunos prestaram a um colega de classe no dia formatura,
presenciamos certa vez uma destas homenagens, a colega que foi encarregada da
mesma colocou o motivo: o universitário sempre soube estar presente quando
alguém necessitou de compreensão, incentivo e apoio; acrescentando que esse
aluno estuda e trabalha (e tenha dois empregos) portanto o cansaço era seu
companheiro diário e mesmo assim teve disponibilidade para se preocupar com seu
próximo. Bonita sua vida ao longo dos anos universitários e bonito também os colegas
que se apagaram no dia da formatura para dizer: "você foi um exemplo para
nós"
Oxalá pudéssemos todo nós entender que há o dia
de brilhar mas há o dia de permitir que a luz do próximo também brilhe. Este
seria o momento que o egoísmo estaria a caminho que ser transformado em
generosidade a grande chave da transformação moral de nosso planeta e o caminho
para a instalação do amor como princípio norteador das relações humanas.
(Jornal Verdade e Luz Nº 181 de Fevereiro de
2001)
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