Uma página, duas notícias
Nilza Teresa Rotter Pelá
de Ribeirão Preto, SP
A página é a A10 do
jornal “O ESTADO DE SÃO PAULO”, de 7 de janeiro de 2000, as notícias são: 1)
“Escolas da França recebem pílulas do dia seguinte” (Produto contraceptivo será
distribuído às alunas sem autorização prévia dos pais); 2) “Escolas aprovam lei
que impede e pune trote violento” (Legislação obriga faculdades a adotar
medidas para evitar ação de estudantes).
A primeira vista parece
uma má e outra boa notícia, entretanto esta classificação vai depender da ótica
de análise, pois ambas têm na sua essência uma ação de fora para dentro, o que
de modo algum se caracteriza como processo educativo.
A lei que reprime o trote
é sem dúvida necessária no momento, visto os acontecimentos que temos
presenciado nestes últimos anos, entretanto aponta para a falha da formação
moral dos estudantes que já cursaram a universidade, por pelo menos um ano.
A formação moral do
indivíduo, sem dúvida, já inicia antes de seu nascimento quando recolhe as
impressões da vida familiar e se prolonga por toda a infância e puberdade agora
com influência de outros grupos sociais como escola, grupo religioso, grêmios
desportivos. Ao chegar à faculdade traz esta bagagem, algumas vezes positiva,
outras vezes nem tanto, acrescida do fato, de como aponta “O Livro dos
Espíritos” na questão 385 , por volta dos 15, 20 anos o “caráter real e
individual reaparece em toda a sua nudez: permanecem boas, se eram
fundamentalmente boas, mas irizam sempre de matizes que estavam ocultos na
primeira infância”.
A pró-reitora de
graduação da Universidade Federal de São Paulo muito bem analisa a questão na
ótica de processo educativo, “para ela, a simples edição da lei contra trotes
não é suficiente. É preciso mudar a mentalidade dos alunos”. (destaque nosso)
Mudar mentalidade demanda
trabalhar com valores pessoais e sociais, portanto é um processo longo e
trabalhoso tanto para o educador como para o educando; como estamos acostumados
a buscar soluções rápidas e pouco trabalhosas ainda acreditamos que a edição de
uma lei seja a solução quando na realidade é um paliativo para o problema.
Paliativo porque se age por medo da punição e não porque se incorporou o
comportamento de respeito pelo outro como uma forma de relacionamento.
Esta mesma reflexão
aplica-se à análise da questão da “pílula do dia seguinte”, resolve-se o
problema social da gravidez na adolescência, pergunta-se, educa a adolescente e
o seu parceiro? A preocupação esta nos jovens ou na repercussão social e porque
não dizer financeira do evento? Some-se com a gravidez e ficam os adolescentes
com as repercussões da fácil solução. Onde fica a família em todo este processo?
A própria ministra que
promulgou o decreto relata a dificuldade familiar para aceitação de suas
idéias, e a reportagem aponta as controvérsias que se instalaram na sociedade
francesa a este respeito. Há o relato de uma enfermeira escolar que diz que
usará o método apenas “como último recurso” e sempre proporia à adolescente a
consulta aos pais.
Não nos propomos a
discutir se os adolescentes devem ou não ter vida sexual ativa, o que nos sobra
de certeza é que todo comportamento deve ser responsável e a atividade sexual
não está fora desta ótica. A grande preocupação da associação dos pais
franceses é que o recurso se banalize e que se passe a fazer uso corriqueiro
dele sem que nenhuma medida preventiva seja usada pelos jovens. A coisa seria
mais ou menos assim “porque me prevenir pois se posso no dia seguinte tomar
minha pílula”. Isto é ser responsável? Como fica o respeito com a vida?
Quanto à última pergunta
há que se analisar a pílula do dia seguinte como contraceptiva e para isto há
que se delimitar onde se entende o início da vida (união do espírito ao corpo),
na fecundação (encontro do óvulo com o espermatozóide na trompa da mulher) ou
na nidação (fixação do ovo no útero materno). Nós os espíritas sabemos pela
questão 344 de “O Livro dos Espíritos” que isto ocorre na concepção e se
completa no nascimento; então mais esta problemática há que ser levantada
quando se for discutir com os jovens.
Nós particularmente
achamos que este assunto deve ser discutido com os jovens espíritas com todas
estas considerações éticas filosóficas. Não sabemos quanto este procedimento,
dito contraceptivo, estará no Brasil, isto se já não estiver às escuras.
Ao tecermos estas
considerações temos como referência que o que sempre deve ser buscado é o
processo educativo com a análise do agir, suas repercussões na vida de todos e
de cada um de nós, pois isto é o que caracteriza indivíduos moralmente
educados. O simples fato de fazer desaparecer o problema não é educar pelo
contrário é evidenciar que os fins justificam os meios, processo este que
contraria a ética cristã do agir.
Joanna De Ângelis, em
“Estudos Espíritas” (p.173) sintetiza:
“A educação encontra no
Espiritismo resposta precisa para melhor compreensão do educando e maior
eficiência do educador no labor produtivo de ensinar a viver, oferecendo os
instrumentos do conhecimento e da serenidade, da cultura e da experiência aos
reiniciantes do sublime caminho redentor, através dos quais os tornam homens
voltados para Deus, o bem e o próximo.”
(Jornal Verdade e Luz Nº 169 de Fevereiro de 2000)
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