Meus Amigos

segunda-feira, 30 de abril de 2012

O Cristão que Voltou


O CRISTÃO QUE VOLTOU

Conta-se que certo cristão de recuados tempos, após reconhecer a grandeza do Evangelho, tomou-se de profunda ansiedade pela completa integração com o Senhor. Ouvia, sequioso de paz celeste, as preleções dos missionários da Revelação Divina e, embora tropeçasse nos caminhos ásperos da Terra, permanecia em perene contemplação do Céu, repetindo:-Jamais serei como os outros homens, arruinados e falidos na fé! Oh! meu Salvador, suspiro pela eterna união contigo! De fato, conquanto não guardasse o fingimento do fariseu, em pronunciando semelhantes palavras, fixava as lutas e fraquezas do próximo, com indisfarçável horror. Assombravam-no os conflitos humanos e as experiências alheias repercutiam-lhe na alma angustiosamente. Não seria melhor retirar-se? Ponderava amedrontado. Não seria razoável refugiar-se na oração e aguardar o encontro divino? Figurava-se-lhe o mundo velho campo lodoso, ao qual era indispensável fugir.Concentrado em si mesmo, adotou o isolamento como norma a seguir no trato com os semelhantes. Desligado de todo os interesses do trabalho humano, vivia em prece contínua, na expectativa de absoluta identificação com o Mestre. Se alguma pessoa lhe dirigia a palavra, respondia receoso, utilizando monossílabos apressados. Pesados tributos de sofrimento exigia a vida de bocas levianas e insensatas e, por isso, temia oferecer opiniões e pareceres. Nas assembléias de oração, quase nunca era visto em companhia de outrem. Desviava-se de tudo e de todos na sua sede de Jesus Cristo. À noite, sonhava com a sublime união e, durante o dia, consagrava-se a longos exercícios espirituais, absorvido na preparação do dia glorioso.Nem por isso, contudo, a vida deixava de acenar-lhe ao espírito, convidando-lhe o coração ao esforço ativo. No lar, no templo, na via pública, o mundo chamava-o a pronunciamento em setores diversos. Entretanto, mantinha-se inflexível. Detestava as uniões terrestres, desdenhava os laços afetivos que unem os seres, zombava de todas as realizações planetárias e punha toda a sua esperança na rápida integração com o Salvador. Se encontrava companheiros cogitando de serviços políticos, recordava os tiranos e os exploradores da confiança pública, asseverando que semelhantes atividades constituíam um crime. A frente de obrigações administrativas, afirmava que a secura e a dureza caracterizam a atitude dos que dirigem as obras terrenas e, perante os servidores leais em ação, classificava-os à conta de bajuladores e escravos inúteis.
Examinando a arte e a beleza, desfazia-se em acusações gratuitas, definindo-as por elemento de exaltação condenável da carne transitória e, observando a ciência, menoscabava-lhe as edificações. Unir-se-ia a Jesus, - ponderava sempre - e jamais entraria em acordo com a existência no mundo. Se companheiros abnegados lhe pediam colaboradores em serviços terrestres, perguntava:-Para quê? E acrescentava:-Os felizes são bastante endurecidos para se aproveitarem de meu concurso, e os infelizes bastante desesperados, merecendo, por isso mesmo, a purificação pela dor. Não pertubarei meu trabalho, seguirei ao encontro de meu Senhor.E de tal modo viveu apaixonado pela glória do encontro celeste se retirou, um dia, do corpo, pela influência da morte, revestido de pureza singular. Na leveza das almas tranquilas, subiu, orgulhoso de sua vitória, para ter com o Senhor e com Ele identificar-se para sempre. No esforço de ascensão, passou por velhos desiludidos, mães atormentadas, pais sofredores, jovens sem rumo e espíritos infortunados de toda sorte... Não lhes deu atenção, todavia. Suspirava por Cristo, pretendia-lhe a convivência para eternidade. Peregrinou dias e noites, procurando ansiosamente até que, em dado instante, lhe surgiu aos olhos maravilhados um palácio deslumbrante. Luzes sublimes banhavam-no todo e lá dentro harmonias celestes se fazem ouvir em deliciosa surdina O crente ajoelhou-se e chorou de júbilo intenso. Palpíta-lhe descompassado o coração amante. Ia, enfim, concretizar o longo sonho.Contudo, antes que se dispusesse a bater junto à portaria resplandecente, apareceu-lhe um anjo, diante do qual se prosterna, extasiado e feliz. Quis falar mas não pôde. A emoção embargava-lhe a voz, todavia o mensageiro afagou-lhe a fronte exclamou compassivo:-Jesus compadeceu-se de ti e mandou-me ao teu encontro.- Estamos no Reino do Senhor? - inquiriu, afinal, o crente venturoso.- Sim, respondeu o emissário angélico, temos à frente início de vasta região bem-aventurada do Reino.- Posso entrar? - indagou o cristão contente.O anjo fixou nele o olhar melancólico e informou:- Ainda não, meu amigo. E ante o interlocutor, profundamente decepcionado continuou: - Realizaste a fiel adoração do Mestre, mas não executaste o trabalho do Pai. Teu coração em verdade palpitou pelo Cristo entretanto, Jesus não se enfeita de admiradores apaixonados, como árvores que se adornam de orquídeas. Não pedi cortejadores para a sua glória e sim espera que todos os seus aprendizes sejam glorificados. Por isso, em sua passagem pela Terra nunca se afirmou proprietário do mundo ou doador das bênçãos. Antes, atendeu a todos os sublimes deveres do serviço comum e convidou os homens a cumprir os superiores desígnios do nosso Eterno Pai. Não deixou os discípulos diretos, aos quais chamou amigos, na qualidade de flores ornamentais de sua doutrina e sim na categoria de sal da Terra destinado à glorificação do gosto de viver.Estabelecera-se longa pausa que o mísero desencarnado não ousou interromper. O mensageiro, porém, acariciando-o, com humildade, observou ainda:-Volta, meu amigo, e completa a realização espiritual! Não procures Jesus como admirador apaixonado, mas inútil... Torna ao plano terrestre, luta, chora, sofre e ajuda no círculo dos outros homens! A dor conferir-te-á dons divinos, o trabalho abrir-te-á portas benditas de elevação, a experiência encher-te-á o caminho de infinita luz e a cooperação entregar-te-á tesouros de valor imortal! Não necessitarás, então, procurar o Senhor, como quem busca a um ídolo, porque o Senhor te procurará como amigo fiel! Volta e não temas!Nesse momento, algo aconteceu de inesperado e doloroso. Desapareceram o palácio, o anjo e a paisagem de luz... Estranha escuridão pesou no ambiente e, quando o pobre desencarnado tornou a sentir o beijo da luz nos olhos lacrimosos, encontrava-se, no mesmo lar modesto de onde havia saído, ansioso agora por retomar o trabalho da realização divina noutra forma carnal.

Irmão X


domingo, 29 de abril de 2012

Jesus Socorra-nos!


O mundo pede socorro a Jesus.


Ele atende, porém, espera por nós.O mundo apresenta a larga faixa dos necessitados de pão.
Jesus, entretanto, não se esquecendo destes, socorre também os que têm necessidade de luz.
O mundo roga paz, nos estertores da violência em que se debate.
Jesus transmite tranquilidade, todavia, emula todos a que nos auxiliemos na fraternidade.
O mundo suplica apoio, a fim de liberar-se das constrições do ódio e da loucura.
Jesus, no entanto, é recurso libertador, que propõe a paciência fraternal e o trabalho solidário entre as criaturas.
O mundo promove desespero e algaravia.Jesus doa silêncio e fé.
Compara as incertezas no mundo e a segurança com Jesus.
Considera os impositivos de fora, no mundo, e as forças interiores que se haurem em Jesus.
Vive, no mundo; no entanto, nunca te apartes de Jesus.
Tua vida física, mesmo que se alargue por dezenas de anos-a-fio, defronta um momento em que cessa, conquanto a tua realidade espiritual com Jesus jamais terminará.
O mundo te leva a conquistas, mas, Jesus, quando conquista, faz que o homem se vença por dentro.
As vitórias externas esmaecem e passam, as íntimas se fortalecem e ficam.
Aprende com a luz. Após realizar o seu périplo, no Universo, depois de contornar a nossa hiperesfera, volve à fonte geradora, seu ponto de partida. . .
Ninguém, mesmo que o deseje, jamais fugirá da sua nascente divina. . .
Aproveita, portanto, hoje.
No duelo, mundo e Jesus, a tua será a opção da permanente angústia ou da promissora ventura.
Diante da moeda que trazia a efígie de César, respondendo à colocação maliciosa e venal do adversário gratuito, Jesus definiu a situação do contributo que cada um deve dar: "a César, o que lhe pertence e a Deus o que é dEle".
DEle, é a vida, e Jesus é o caminho único, mediante o qual lograrás alcançá-Lo.
Joanna de Ângelis

sábado, 28 de abril de 2012

O Governador Humilde



Ninguém mais humilde que Ele, o Divino Governador da Terra.
Podia eleger um palácio para a glória do nascimento, mas preferiu sem mágoa a manjedoura simples.
Podia reclamar os princípios da cultura para o seu ministério de paz e redenção; contudo, preferiu pescadores singelos para instrumentos sublimes do seu verbo de luz.
Podia articular defesa irresistível a fim de dominar a governança política; no entanto, preferiu render-se à autoridade, presente em sua época, ensinando que o homem deve entregar ao mundo o que ao mundo pertence, e a Deus o que é de Deus.
Podia banir de pronto do colégio apostólico o amigo invigilante, mas preferiu que Judas conseguisse os seus fins, lamentáveis e excusos, descerrando-lhe aos pés o caminho melhor.
Podia erguer-se ao Sol da plena vida eterna, sem voltar-se jamais ao convívio humilhante daqueles que o feriram nos tormentos da cruz; no entanto, preferiu regressar para o mundo, estendendo de novo as mãos alvas e puras aos ingratos da véspera.
Podia constranger o espírito de Saulo a receber-lhe as ordens, mas preferiu surgir-lhe qual companheiro anônimo, rogando-lhe acordar, meditar e servir, em favor de si mesmo.
Em Cristo, fulge sempre a humildade celeste, pela qual aprendemos que, quanto mais poder, mais amplo o trilho augusto aberto às nossas almas para que nos façamos, não apenas humildes pelos padrões da Terra, mas humildes enfim pelos padrões de Deus.
Emmanuel


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Seguir os Passos de Jesus


A ISSO FOMOS CHAMADOS

Amanhece... O céu ainda coberto por tênue nevoeiro deixa transparecer tons de azul esvanecidos pela sombra da noite, que aos poucos desaparece dispersada pelo nascimento do Sol que desponta no horizonte... A lua minguante, recurvada como um barquinho de brinquedo, segue seu rumo calmo, com seu brilho menos intenso, a nos indicar que com serenidade poderemos vislumbrar a vida que acorda neste novo dia cheio de promessas e expectativas... Há dentro de mim um turbilhão de idéias, de planos para este alvorecer, todavia procuro me acalmar meditando e orando a Jesus para que eu não me perca na pressa nem me acomode na indiferença ao iniciar mais um dia.

Quando somos alvo de problemas que causam desencanto e perplexidade, devemos procurar entender a causa de tudo e acalmar nosso mundo íntimo; buscar nas mensagens do Evangelho de Jesus as lições e diretrizes para desanuviar nossa mente diante dos testemunhos que, certamente, devem auferir se melhoramos nossas atitudes ou se ainda deixamos o orgulho obscurecer nossos melhores sentimentos.

Pois para isto é que fostes chamados, porque também o Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que lhe sigais as pegadas (I Pedro, 2:21).

Passamos a refletir em torno dos problemas que vivenciamos. Sabemos que irão passar e que soluções chegarão para superá-los. Não estamos na Terra para viver somente de prazeres e ilusões, mas sim para os testemunhos diante das aflições que nos procuram em diferentes formas e nos levam a sofrer, muitas vezes, injustamente, se analisarmos apenas nossos atos do presente...

Em sua caminhada evolutiva o ser humano se defronta com situações nas quais são analisadas suas reações e analisados seus comportamentos diante do poder, do dinheiro e da beleza física. Poucos sabem lidar com estes atributos sem ferir o próximo, sem se deixar levar pelas paixões perturbadoras... Dos três, considero o poder o mais perigoso. As pessoas mudam quando dispõem de autoridade material. Tornam-se arbitrárias, prepotentes, insensíveis, usam máscaras procurando ocultar seus conflitos, sua realidade interior...

Muitas o fazem sem perceber que estão causando sofrimentos e prejuízos aos outros...

Julgam-se corretas em suas decisões, não analisam seus gestos e se perdem ante a bajulação dos que as cercam enquanto estão no topo das decisões... Esquecem-se de que tudo é transitório e de que, pela lei de causa e efeito, estão semeando o que colherão no futuro...

Suas atitudes exteriores revelam seu “eu” mais profundo.

Nem o aconselhamento dos mais experientes consegue demovê-las de atitudes impensadas e prejudiciais ao grupo social onde atuam.

Infelizmente, no meio espírita, surgem também pessoas assim, despreparadas para cargos diretivos, iludidas com o poder transitório.

Deveria ser diferente, porque como espíritas desejosos de abraçar a causa do Espiritismo e vivenciar os ensinamentos de Jesus em quaisquer situações da vida, mesmo enfrentando muitas dificuldades, não poderíamos nos deixar levar pelas perigosas tentações do poder...

Todavia, nos verdadeiros espíritas há um grau de discernimento que os torna mais fortes e imune às arbitrariedades, porque se sentem fortalecidos quando a luz do Evangelho se aloja em seu coração, iluminando sua mente.

Alterações profundas acontecem em seu mundo íntimo:

Não se envaidecem ao ocupar posições de destaque; afastam o egoísmo de seu mundo íntimo; evitam dissensões, maledicências e comentários levianos; defendem os mais fracos e não abusam do poder para ferir a quem quer que seja; são simples e humildes, buscando sempre entender o outro, mesmo que discordem de suas opiniões; não impõem sua vontade e buscam sempre o equilíbrio íntimo e a convivência harmoniosa com os que estão caminhando ao seu lado.

São almas livres, sem as algemas do preconceito, da vaidade e das ilusórias conquistas materiais, sabendo que são transitórias as posições, as glórias e o poder...

Quando os ensinamentos de Jesus iluminam nossa consciência para acertarmos nossos passos na senda do progresso moral, nossa sensibilidade aumenta e começamos a perceber nuanças que antes nos eram desconhecidas... Sentimo-nos mais suscetíveis de entender o outro em suas dores e aflições...

Todo crescimento e toda mudança causam sofrimento e desconforto íntimo.

Por estarem mais sensíveis, aguçam suas percepções e padecem incompreensões e distanciamento dos que antes se acercavam deles com objetivo de receber ajuda ou obter alguma vantagem.

Na hora do testemunho geralmente estamos sozinhos...

Mesmo rodeados dos que são verdadeiramente amigos e querem nos ajudar, nos sentimos isolados do mundo... É quando buscamos na fé e no amor de Deus a coragem para prosseguir...

Em nossas fileiras espíritas, quando somos defrontados por problemas e sofremos incompreensões dos que deveriam nos estender as mãos, temos que vigiar as nascentes do coração e ouvir as lições de Jesus que enriquecem nosso mundo íntimo, convidando-nos à reflexão em torno dos valores reais da vida, da aceitação da lei divina, e buscar no recôndito de nossas almas o conforto espiritual para vencermos, os desafios do caminho.

Emmanuel nos diz que:

Se nos encontrarmos, pois, em extremos desajustes na vida íntima, em face dos problemas suscitados pela fé, saibamos superar corajosamente os conflitos da senda, optando sempre pelo sacrifício de nós mesmos, em favor do bem geral, de vez que não fomos trazidos à comunhão com Jesus, simplesmente para o ato de crer, mas para contribuir na extensão do Reino de Deus, ao preço de nossa própria renovação.

E enfatiza que não podemos desistir da luta, nem recuar diante do sofrimento, mas sim aprender a usá-lo na concretização de nossos ideais de amor e crescimento espiritual por meio da fraternidade, da compreensão, do ânimo e da alegria, prosseguindo corajosos e livres.

Jesus nos deixou o roteiro, e se fomos chamados a servir, caminhando ao seu encontro, teremos que alijar de nosso coração a mágoa, o desencanto, o desânimo, buscando sempre evidenciar que já estamos seguindo seus ensinamentos e já conhecemos o quanto ainda nos falta crescer para chegarmos até Ele.



“A isso fomos chamados”...



Lucy Dias Ramos
REFORMADOR SET.2010



quinta-feira, 26 de abril de 2012

Parábola dos Trabalhadores da Vinha



“Porque o Reino dos Céus é semelhante a um proprietário, que saiu de madrugada a assalariar trabalhadores para a sua vinha. E feito com os trabalhadores o ajuste de um denário por já, mandou-os para a sua vinha. Tendo saído cerca da hora terceira, viu estarem outros na praça desocupados, e disse-lhes: de também vós para a minha vinha, e vos darei o que for justo. E eles foram. Saiu outra vez cerca da hora sexta, e da no-la, e fez o mesmo. E cerca da undécima, saiu e achou Outros que lá estavam e perguntou-lhes: Por que estais aqui todo o ia desocupados? Responderam-lhe: Porque ninguém nos assalariou. Disse-lhes: Ide também para a minha vinha. A tarde, disse o dono da vinha ao ser administrador: 
Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos e acabando pelos primeiros. Tendo chegado os que tinham sido assalariados cerca da undécima hora, receberam um denário cada um. E vindo os primeiros, pensavam que haviam de receber mais; porém, receberam igualmente um denário cada um. Ao receberem-no, murmuravam contra o proprietário, alegando: Estes últimos trabalharam somente uma hora, e os igualaste a nós, que suportamos o peso do dia e o calor extremo! Mas o proprietário disse a um deles: Meu amigo, não te faço injustiça; tão ajustaste comigo por um denário? Toma o que é teu e vai embora, pois quero dar a este último tanto como a ti. Não me é licito fazer o que me apraz do que é meu? Acaso o teu olho é mau, porque eu sou bom? Assim os últimos serão os primeiros, os primeiros serão os últimos.”
(Mateus XX, 1 – 16.)

As condições essenciais para os trabalhadores são: a constância, o desinteresse, a boa vontade e o esforço que azem no trabalho que assumiram. Os bons trabalhadores e distinguem por estes característicos.
O mercenário trabalha pelo dinheiro; seu único fito, sua única aspiração é receber o salário.
O verdadeiro operário, o artista, trabalha por amor à Arte. Assim é em todas as ramificações dos conhecimentos humanos: há os escravos do dinheiro e há o operário do progresso. Na lavoura, na indústria, como nas Artes e Ciências, destacam-se sempre o operário e o mercenário.
O materialismo, a materialidade, a ganância do ouro arranjaram, na época em que nos achamos, mais escravos do que a Vinha arranjou mais obreiros. Por isso, grande é a seara e poucos são os trabalhadores!
Na Parábola, pelo que se depreende, não se faz questão da quantidade do trabalho, mas sim da qualidade, e, ainda mais, da permanência do obreiro até o fim. Os que trabalharam na Vinha, desde a manhã até à noite, não mereceram maior salário que os que trabalharam uma única hora, dada a qualidade do trabalho.
Os que chegaram por último, se tivessem sido chamados à hora terceira teriam feito, sem dúvida, o quádruplo do que fizeram aqueles que a essa hora foram para o serviço. Daí a lembrança do Proprietário da Vinha de pagar primeiramente os que fizeram aparecer melhor o serviço e mais desinteressadamente se prestaram ao trabalho para o qual foram chamados.
Esta Parábola, em parte, dirige-se muito bem aos espíritas. Quantos deles por ar andam, sem estudo, sem prática, sem orientação, fazendo obra contraproducente e ao mesmo tempo abandonando seus interesses pessoais seus deveres de família, seus deveres de sociedade!
Na Seara chega-se a encontrar até os vendilhões que apregoam sua mercadoria pelos jornais como o mercador na praça pública, sempre visando bastardos Interesses. Ora são médiuns mistificadores que exploram a saúde pública; ora são “gênios” capazes de abalar os céus para satisfazerem a curiosidade dos ignorantes. Enfim são muitos os que trabalham, mas poucos os que ajuntam, edificam, tratam, como devem, a Vinha que foi confiada à sua ação.
Há uma outra ordem de espíritas que nenhum proveito tem dado ao Espiritismo. Encerram-se entre quatro paredes, não estudam, não lêem, e passam a vida a doutrinar espíritos.
Não há; dúvida de que trabalham estes obreiros; mas, pode-se comparar a sua obra com a dos que se expõem ao ridículo, ao ódio, à injúria, à calúnia, no largo campo da propaganda? Podem-se comparar os enclausurados numa sala, fazendo trabalhos secretos e às mais das vezes improfícuos, com os que sustentam, aqui fora, renhida luta e se batem, a peito descoberto, pelo triunfo da causa que desposaram?
Finalmente, a Parábola conclui com a lição sobre os olhos maus: os invejosos que cuidam mais de si próprios que da coletividade; os personalistas, os egoístas que vêem sempre mal as graças de Deus em seus semelhantes, e a querem todas para si.
Na História do Cristianismo realça a Parábola da Vinha com os característicos dos seus obreiros. “O que era é o que é”, diz o Eclesiastes; e o que se passou é o que se está passando agora com a Revelação Complementar do Cristo. Há os chamados pela madrugada, há os que chegaram à hora terceira, à hora sexta, à nona e à undécima. Na verdade estamos na hora undécima e os queouvirem o apelo e souberem trabalhar como os da hora undécima de outrora, serão os primeiros a receber o salário, porque agora como então, o pagamento começará pelos últimos.
Ai dos que clamarem contra a vontade do Senhor da Vinha! Ai dos malandros, dos mercenários, dos inscientes!.

Cairbar Schutel

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Parábola da Figueira que Secou

PARÁBOLA DA FIGUEIRA QUE SECOU





Quando saiam de Betânia, ele teve fome; e, vendo ao longe uma figueira, para ela encaminhou-se, a ver se acharia alguma coisa; tendo-se, porém, aproximado, só achou folhas, visto não ser tempo de figos. Então, disse Jesus à figueira: Que ninguém coma de ti fruto algum, o que seus discípulos ouviram. - No dia seguinte, ao passarem pela figueira, viram que secara até á raiz. - Pedro, lembrando-se do que dissera Jesus, disse: Mestre, olha como secou a figueira que tu amaldiçoaste. - Jesus, tomando a palavra, lhes disse: Tende fé em Deus. - Digo-vos, em verdade, que aquele que disser a esta montanha: Tira-te daí e lança-te ao mar, mas sem hesitar no seu coração, crente, ao contrário, firmemente, de que tudo o que houver dito acontecerá, verá que, com efeito, acontece. (S. MARCOS, cap. Xl, vv. 12 a 14 e 20 a 23.)

A figueira que secou é o símbolo dos que apenas aparentam propensão para o bem, mas que, em realidade, nada de bom produzem; dos oradores que mais brilho têm do que solidez, cujas palavras trazem superficial verniz, de sorte que agradam aos ouvidos, sem que, entretanto, revelem, quando perscrutadas, algo de substancial para os corações. E de perguntar-se que proveito tiraram delas os que as escutaram.
Simboliza também todos aqueles que, tendo meios de ser úteis, não o são; todas as utopias, todos os sistemas ocos, todas as doutrinas carentes de base sólida. O que as mais das vezes falta é a verdadeira fé, a fé produtiva, a fé que abala as fibras do coração, a fé, numa palavra. que transporta montanhas. São árvores cobertas de folhas porém, baldas de frutos. Por isso é que Jesus as condena à esterilidade, porquanto dia virá em que se acharão secas até à raiz. Quer dizer que todos os sistemas, todas as doutrinas que nenhum bem para a Humanidade houverem produzido, cairão reduzidas a nada; que todos os homens deliberadamente inúteis, por não terem posto em ação os recursos que traziam consigo, serão tratados como a figueira que secou.
Os médiuns são os intérpretes dos Espíritos; suprem, nestes últimos, a falta de órgãos materiais pelos quais transmitam suas instruções. Daí vem o serem dotados de faculdades para esse efeito. Nos tempos atuais, de renovação social, cabe-lhes uma missão especialíssima; são árvores destinadas a fornecer alimento espiritual a seus irmãos; multiplicam-se em número, para que abunde o alimento; há-os por toda a parte, em todos os países em todas as classes da sociedade, entre os ricos e os pobres, entre os grandes e os pequenos, a fim de que em nenhum ponto faltem e a fim de ficar demonstrado aos homens que todos são chamados. Se porém, eles desviam do objetivo providencial a preciosa faculdade que lhes foi concedida, se a empregam em coisas fúteis ou prejudiciais, se a põem a serviço dos interesses mundanos, se em vez de frutos sazonados dão maus frutos se se recusam a utilizá-la em beneficio dos outros, se nenhum proveito tiram dela para si mesmos, melhorando-se, são quais a figueira estéril. Deus lhes retirará um dom que se tornou inútil neles: a semente que não sabem fazer que frutifique, e consentirá que se tornem presas dos Espíritos maus.

Allan Kardec. Da obra: O Evangelho Segundo o Espiritismo.


terça-feira, 24 de abril de 2012

As Flores, Símbolo de Beleza



As flores foram criadas no mundo como símbolos de beleza, da pureza e da esperança.
Como o homem que vê as corolas se abrirem todas as primaveras, as flores se fanarem para dar lugar aos frutos deliciosos, como não pensa o homem que assim sua vida murchará para dar frutos eternos? Que vos importam, pois, as tempestades e as torrentes? Estas flores jamais perecerão, como não perece a mais frágil obra do Criador. Coragem, pois, homens que caís pela estrada; levantai-vos como o lírio, após a tempestade, mais puros e mais radiosos. Como às flores, os ventos vos açoitam à direita e à esquerda; eles vos derribam e sois arrastados pela lama; mas quando o sol reaparece reergueis também vossas cabeças mais nobres e mais altas.
Amai, pois, as flores. Elas são o emblema de vossa vida e não deveis corar por serdes a elas comparados. Tende-as nos vossos jardins, nas vossas casas, mesmo nos vossos templos, pois elas estarão bem por toda parte; em todos os lugares elas levam a poesia: elevam a alma de quem as sabe compreender. Não foi nas flores que Deus desdobrou todas as suas magnificências? De onde conheceríeis as cores suaves com que o Criador alegrou a Natureza se não fossem as flores? Antes que o homem tivesse cavado as entranhas da terra para achar o rubi e o topázio, tinha as flores à sua frente; e essa variedade infinita de nuanças já o consolava da monotonia da superfície da Terra. Amai, pois, as flores: sereis mais puros, sereis mais amoráveis; talvez sejais mais infantis, mas sereis os filhos queridos de Deus e vossas almas simples e sem mácula serão acessíveis a todo o seu amor, toda alegria com que ele aquecerá os vossos corações.
As flores querem ser tratadas por mãos esclarecidas: a inteligência é necessária à sua prosperidade; durante muito tempo estivestes errados na Terra, deixando tal cuidado a mãos inábeis, que as mutilavam, julgando embelezá-las. Nada mais triste que as árvores redondas ou pontiagudas de alguns dos vossos jardins: pirâmides de verdura, que fazem o efeito de um monte de feno. Deixai que a Natureza se desenvolva sob mil formas diversas: aí está a graça. Feliz aquele que sabe admirar a beleza de uma haste que se balouça, semeando a poeira fecundante; feliz aquele que vê em suas cores brilhantes um infinito de graça, de finura, de colorido, de nuanças que fogem e se buscam, se perdem e se reencontram. Feliz aquele que sabe compreender a beleza da gradação dos tons! Desde a raiz escura, que se casa a terra, como as cores se fundem até o escarlate da tulipa e da papoula! (Por que esses nomes rudes e originais?) Estudai tudo isto e olhai as folhas que saem umas das outras como gerações infinitas, até o seu completo desabrochar sob a cúpula do céu.
Não parece que as flores deixam a Terra para lançar-se para outros mundos? Não parece que muitas vezes vergam, dolorosas, a cabeça, por não poderem elevar-se ainda mais alto? Não julgamos que, por sua beleza, estejam mais próximas de Deus? Imitai-as, pois, e tornai-vos cada vez maiores, cada vez mais belos.
Vossa maneira de aprender Botânica também é defeituosa: não basta saber o nome de uma planta. Aconselho-te, quando tiveres tempo, a trabalhar numa obra deste gênero. Defiro para mais tarde as lições que hoje desejaria dar-te: elas tornar-se-ão mais úteis, quando tivermos em mãos a sua aplicação. E então falaremos do gênero de cultura, dos lugares que lhes convêm, do arranjo do edifício para arejamento e a salubridade das habitações. (Espírito de Bernard Palissy - R. E. 1858);

Nota do compilador: Bernard Palissy (1510 - 1589 ou 1590). Ceramista, esmaltador, pintor, vidreiro, escritor e erudito francês. Suas cerâmicas rústicas são decoradas com plantas, frutas e animais. Era autodidata. Interessou-se pelas ciências naturais e publicou diversas obras a respeito. Estudou os fósseis. Foi preso como huguenote e morreu na Bastilkha.


segunda-feira, 23 de abril de 2012

A Ilusão do Discípulo





Jesus havia chegado a Jerusalém sob uma chuva de flores.
De tarde, após a consagração popular, caminhava Tiago e Judas, lado a lado, por uma estrada antiga, marginada de oliveiras, que conduzia às casinhas alegres de Betânia.
Judas Iscariote deixava transparecer no semblante íntima inquietação, enquanto no olhar sereno do filho de Zebedeu fulgurava a luz suave e branda que consola o coração das almas crentes.
– Tiago – exclamou Judas, entre ansioso e atormentado – não achas que o Mestre é demasiado simples e bom para quebrar o jugo tirânico que pesa sobre Israel, abolindo a escravidão que oprime o povo eleito de Deus?
– Mas – replicou o interpelado – poderias admitir no Mestre as disposições destruidoras de um guerreiro do mundo?
– Não tanto assim. Contudo, tenho a impressão de que o Messias não considera as oportunidades. Ainda hoje, tive a atenção reclamada por doutores da lei que me fizeram sentir a inutilidade das pregações evangélicas, sempre levadas a efeito entre as pessoas mais ignorantes e desclassificadas.
Ora, as reivindicações do nosso povo exigem um condutor enérgico e altivo.
– Israel – retrucou o filho de Zebedeu, de olhar sereno – sempre teve orientadores revolucionários; o Messias, porém, vem efetuar a verdadeira revolução, edificando o seu reino sobre os corações e nas almas!...
Judas sorriu algo irônico e acrescentou :
– Mas, poderemos esperar renovações, sem conseguirmos o interesse e a atenção dos homens poderosos?
– E quem haverá mais poderoso ao que Deus, de quem o mestre é o Enviado divino ?
Em face dessa invocação Judas mordeu os lábios, mas prosseguiu :
– Não concordo com os princípios de inação e creio que o Evangelho somente poderá vencer com o amparo dos prepostos de César, ou das autoridades administrativas de Jerusalém, que nos governam o destino. Acompanhando o Mestre nas suas pregações em Cesaréia, em Sebaste, em Corazin e Betsaida, quando das suas ausências de Cafarnaum., jamais o vi interessado em conquistar a atenção dos homens mais altamente colocados na vida. É certo que de seus lábios divinos sempre brotaram a verdade e o amor, por toda parte ; mas, só observei leprosos e cegos, pobres e ignorantes, abeirando-se de nossa fonte.
– Jesus, porém, já nos esclareceu – obtemperou Tiago, com brandura – que o seu reino não é deste mundo.
Imprimindo aos olhos inquietes um fulgor estranho, o discípulo impaciente revidou com energia:
Vimos hoje o povo de Jerusalém atapetar o caminho do Senhor com as palmas da sua admiração e do seu carinho; precisamos, todavia, impor a figura do Messias às autoridades da Corte Provincial e do Templo, de modo a aproveitarmos êsse surto de simpatia. Notei que Jesus recebia as homenagens populares sem partilhar do entusiasmo febril de quantos o cercavam, razão por que necessitamos multiplicar esforços, em lugar dele, afim de que a nossa posição de superioridade seja reconhecida em tempo oportuno.
– Recordo-me, entretanto, de que o Mestre nos asseverou, certa vez, que o maior na comunidade será sempre aquele que se fizer o menor de todos.
– Não podemos levar em conta esses excessos de teoria. Interpelado que vou ser hoje por amigos influentes na política de Jerusalém, farei o possível por estabelecer acordos com os altos funcionários e homens de importância, afim de imprimirmos novo movimento às idéias do Messias.
– Judas! Judas!... – observou-lhe o irmão de apostolado, com doce veemência – vê lá o que fazes! Socorreres-te dos poderes transitórios do mundo, sem um motivo que justifique êsse recurso, não será, desrespeito à autoridade de Jesus? Não terá o Mestre visão bastante para sondar e reconhecer os corações? O hábito dos sacerdotes e a toga dos dignitários romanos; são roupagens para a Terra... As idéias do Mestre são do céu e seria sacrilégio misturarmos a sua pureza Com as Organizações viciadas do mundo!... Além de tudo, não podemos ser mais sábios, nem mais amorosos do que Jesus e ele sabe o melhor caminho e a melhor oportunidade para a conversão dos homens!... As conquistas do mundo são cheias de ciladas para o espírito e, entre elas, é possível que nos transformemos em órgão de escândalo para a verdade que o Mestre representa.
Judas silenciou, atormentado.
No firmamento, os derradeiros raios de Sol batiam nas nuvens distantes, enquanto os dois discípulos tomavam rumos diferentes.

***
Sem embargo das carinhosas exortações de Tiago, Judas Iscariote passou a noite tomado de angustiosas inquietações.
Não seria melhor apressar o triunfo mundano do Cristianismo? Israel não esperava um Messias que enfeixasse nas mãos todos os poderes? Valendo-se da doutrina do Mestre, poderia tomar para si as rédeas do movimento renovador, enquanto Jesus, na sua bondade e simplicidade, ficaria entre todos, como um símbolo vivo da idéia nova.
Recordando suas primeiras conversações com as autoridades do Sinédrio, meditava na execução de seus sombrios desígnios.
A madrugada o encontrou decidido, na embriagues de seus sonhos ilusórios. Entregaria o Mestre aos homens do poder, em troca de sua nomeação oficial para dirigir a atividade dos companheiros. Teria autoridade e privilégios políticos. Satisfaria às suas ambições, aparentemente justas, afim de organizar a vitória cristã no seio de seu povo. Depois de atingir o alto cargo com que contava, libertaria a Jesus e lhe dirigiria os dons espirituais, de modo a utilizá-los para a conversão de seus amigos e protetores prestigiosos.
O Mestre, a seu ver, era demasiadamente humilde e generoso para vencer sozinho, por entre a maldade e a violência.
Ao desabrochar a alvorada, o discípulo imprevidente demandou o centro da cidade e, após horas, era recebido pelo Sinédrio, onde lhe foram hipotecadas as mais relevantes promessas.
Apesar de satisfeito com a sua mesquinha gratificação e desvairado no seu espírito ambicioso, Judas amava ao Messias e esperava, ansiosamente, o instante do triunfo, para lhe dar a alegria da vitória cristã, através das manobras políticas do mundo.
O prêmio da vaidade, porém, esperava a sua desmedida ambição.
Humilhado e escarnecido, seu Mestre bem-amado foi conduzido a cruz da ignomínia, sob vilipêndios e flagelações.
Daqueles lábios, que haviam ensinado a verdade e o bem, a simplicidade e o amor, não chegou a escapar-se uma queixa. Martirizado na sua estrada de angústias, o Messias só teve o máximo de perdão para seus algozes.
Observando os acontecimentos, que lhe contrariavam as mais íntimas suposiçôes, Judas Iscariote se dirigiu a Caifas, reclamando o cumprimento de suas promessas. Os sacerdotes, porém, ouvindo-lhe as palavras tardias, sorriram com sarcasmo. Debalde recorreu às suas prestigiosas relances de amizade: teve de reconhecer a falibilidade das promessas humanas. Atormentado e aflito, buscou os companheiros de fé. Encontrou-os vencidos e humilhados; pareceu-lhe, porém, descobrir em cada olhar a mesma exprobração silenciosa e dolorida.

***
Já se havia escoado a hora sexta, em que o Mestre expiara na cruz, implorando perdão para seus verdugos.
De longe, Judas contemplou tôdas as cenas angustiosas e humilhantes do Calvário. Atroz remorso lhe pungia a consciência dilacerada. Lágrimas ardentes lhe rolavam dos olhos tristes e amortecidos. Mau, grado à vaidade que o perdera, ele amava intensamente ao Messias.
Em breves instantes, o céu da cidade impiedosa se cobriu de nuvens escuras e borrascosas. O mau discípulo, com um oceano de dor na consciência, peregrinou em derredor do casario maldito, acalentando o propósito de desertar do mundo, numa suprema traição aos compromissos mais sagrados de sua vida.
Antes, porém, de executar seus planos tenebrosos, junto à figueira sinistra, ouvia a voz amargurada do seu tremendo remorso.
Relâmpagos terríveis rasgavam o firmamento; trovões cavernosos pareciam lançar sobre a terra criminosa a maldição do céu vilipendiado e esquecido.
Mas, sobre tôdas as vozes confusas da Natureza, o discípulo infeliz escutava a voz do Mestre, consoladora e inesquecível, penetrando-lhe os refolhos mais íntimos da alma :
– “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. Ninguém pode ir ao Pai, senão por mim....

Irmão X - Humberto de Campos
Do livro “Boa Nova”. Psicografia de Francisco Cândido Xavier.


domingo, 22 de abril de 2012

Experiências Difíceis


Experiências Difíceis

A beleza física pode provocar tragédias imprevisíveis para a alma, se esta não possui discernimento.

Excessivo dinheiro é porta para a indigência, se o detentor da fortuna não consolidou o próprio equilíbrio.

Demasiado conforto é desvantagem, se a criatura não aprendeu a arte de desprender-se.

Muito destaque é introdução a queda espetacular, se o homem não amadureceu o raciocínio.

Considerável autoridade estraga a alegria de viver, se a mente ainda não cultiva o senso das proporções.

Grande carga de responsabilidade extermina a existência daquele que ainda não ultrapassou a compreensão comum.

Enorme cabedal de conhecimento, em meio de inúmeras pessoas ignorantes, vulgares ou insensatas, é fruto venenoso e amargo, se o espírito ainda não se resignou à solidão.

Texto extraído do livro "Agenda Cristã ", Chico Xavier (André Luiz)

sábado, 21 de abril de 2012

Parábola do Semeador








Um semeador, como fazia todos os dias, saiu de casa e se dirigiu ao seu campo para nele semear os grãos de trigo que possuía, honrando a Deus com seu trabalho honesto.
Começou a semeadura. Enquanto lançava as sementes ao campo, algumas caíram no caminho, na pequena estrada que ficava no meio da seara. Você sabe que os passarinhos costumam acompanhar os semeadores ao campo, para comer as sementes que caem ao chão? Pois, isso aconteceu em nossa história. Alguns grãos caíram à beira da estrada, e os passarinhos, rápidos, desceram e os comeram.
O semeador, porém, continuou semeando. Outras sementes caíram num lugar pedregoso. Havia ali muitas pedras e pouca terra. As sementes nasceram logo naquele solo, que não era profundo. O trigo cresceu depressa, mas, vindo o sol forte, foi queimado; e como suas raízes não cresceram por causa das pedras, murchou e morreu.
Outros grãos caíram num pedaço do campo onde havia muitos espinheiros. Quando o trigo cresceu, foi sufocado pelos espinhos e também morreu.
Uma última parte das sementes caiu numa terra boa e preparada, longe dos pedregulhos e das sarças. E o trigo ali semeado deu uma colheita farta. Cada grão produziu outros cem, outros sessenta outros trinta...
*
O próprio Jesus explicou a Seus discípulos a Parábola do Semeador.
As nossas almas, filhinho, são comparáveis aos quatro terrenos da história: "o terreno do caminho", "o solo cheio de pedras", "a terra cheia de espinheiros" e "o terreno lavrado e bom".
Jesus é o Divino Semeador. A semente é a Sua Palavra de bondade e de sabedoria. E os diversos terrenos são os nossos corações, os nossos espíritos, onde Ele semeia Seus ensinamentos, cheio de bondade para conosco.
E como procedemos para com Jesus? Como respondemos à Sua bondade? O modo como damos resposta ao amor cuidadoso do Divino Mestre é que nos classifica espiritualmente, isto é, mostra que espécie de terreno existe em nossa alma. Cada coração humano é uma espécie de terra, um dos quatro solos da parábola.
Vejamos, então, filhinho:
Quando alguém ouve a palavra do Evangelho e não procura compreendê-la, nem lhe dá valor, aparecem as forças do mal (os Espíritos maldosos, desencarnados ou encarnados) e arrebatam o que foi semeado no seu coração, tais como os passarinhos comeram as sementes... E sabe de que modo? Fazendo com que a alma esqueça o que ouviu, dando outros pensamentos à pessoa, fazendo com que ela se desinteresse das coisas espirituais. E a alma fica indiferente aos ensinamentos divinos. O coração dessa pessoa é semelhante ao "terreno do caminho", onde a semente não chegou a penetrar. Um exemplo desse terreno é a criança que não presta atenção às aulas de Evangelho, ficando distraída durante as explicações. Ou ainda, a criança que não gosta de ler os livrinhos que ensinam o caminho de Jesus...
E o segundo terreno, o pedregoso?
Esse terreno é a imagem da pessoa que recebe os ensinos de Jesus com muita alegria. São exemplos as pessoas entusiasmadas com o serviço cristão, ou as crianças animadas nas escolas de Evangelho, mas cuja animação dura pouco. Quando surgem as zombarias, as perseguições ou os sofrimentos, a alma, que é inconstante, abandona o caminho do Evangelho. Um exemplo para você, filhinho: uma criança está freqüentando as aulas de Moral Cristã numa Escola Espírita. Está aprendendo os mandamentos Divinos, os ensinos de Cristo, o caminho do bem, da pureza, da honestidade. Está muito contente com o que está estudando. Sente-se animada e feliz. Um dia, aparece um colega do colégio ou da vizinhança, dizendo que o "Espiritismo é obra do demônio", que "os que freqüentam aulas de Evangelho nas escolas Espíritas ficam loucos e vão para o inferno". E zombam dele sempre que o encontra e lhe põe apelidos humilhantes. O nosso amiguinho não tem ainda firmeza de fé. Tem medo das zombarias dos colegas e dos vizinhos, que dizem que "somente sua religião é verdadeira" e lhe mandam "receber espíritos na rua . Amedrontado pela perseguição e pelos motejos, o nosso irmãozinho deixa a Escola de Evangelho, onde estava começando a compreender a beleza do ensino de Jesus e as bênçãos do Espiritismo Cristão. Esse menino tinha o coração semelhante ao "terreno cheio de pedras", onde a planta da verdade não pôde crescer e frutificar.
O terceiro solo é a "terra cheia de espinheiros". É o caso das pessoas que recebem a palavra do Evangelho, mas, depois abandonam o caminho cristão por causa das grandezas falsas do mundo e da sedução das riquezas. Ouviram o Evangelho, mas se interessaram mais pelos negócios, pelos lucros, pelas vaidades da vida, pelo cuidado exclusivo das coisas da terra. Há também, no mundo das crianças, exemplos desse terreno. São as crianças que conheceram, às vezes desde pequeninas, os ensinos de Jesus, mas, depois de crescidas, preferiram os maus companheiros, as crianças sem Deus, e passaram a interessar-se somente pelos problemas de dinheiro ou de moda, pelos ídolos do cinema ou do futebol. Não querem mais nem Jesus, nem lições de Evangelho. Só pensam em automóveis de luxo, sonham com caminhões, imaginam-se ricos "quando crescerem"... A princípio, sabiam repartir com os pobres o seu dinheirinho, porém, agora só pensam em juntá-lo: a caridade morreu nos seus corações. O mundo, com suas riquezas falsas (que terminam com a morte), seduziu suas almas e sufocou a plantinha de Deus em seus espíritos. Trocaram Jesus pelos sonhos e ambições de carros de luxo, de figurinos, de roupas elegantes, de campos de esporte, de concursos de beleza, de grandezas sociais... A plantinha de Deus foi sufocada pelos espinhos do egoísmo e das ilusões da vida material. E morreu...
O quarto terreno, "a terra lavrada e boa", é o símbolo do coração que escuta o Evangelho, procurando compreendê-lo e praticá-lo na vida. É a alma que estuda a palavra do Senhor, percebendo que está neste mundo para aprender a Verdade e o Bem. E, assim, dá frutos de bondade e eleva-se para Deus. Abandona seus vícios e maus hábitos, dedicando-se à prática das virtudes, guardando a fé no coração, socorrendo carinhosamente os necessitados e sofredores e buscando os conselhos de Deus no Evangelho de Cristo.
O coração de uma criança verdadeiramente cristã é o bom terreno da parábola: cada semente de Jesus se transforma em trinta, sessenta ou cem bênçãos de bondade, de fé e de auxílio ao próximo. O coração dessa criança deseja conhecer sempre mais e melhor os ensinos cristãos. E se esforça sinceramente para fazer a Vontade Divina: amar e perdoar, crer e ajudar, aprender e servir.
Filhinho, aí está a Parábola do Semeador. Medite nela. Que você, guardando a humildade de coração, se esforce para ser, se ainda não o é, o bom terreno, que recebe os grãos de luz do Divino Semeador e dá muitos frutos de sabedoria e bondade.

Tavares, Clóvis. Da obra: Histórias que Jesus Contou. Parábola do Semeador: Mateus, 13:1-9, 18




sexta-feira, 20 de abril de 2012

A Pregação Fundamental






Um aprendiz de Nosso Senhor Jesus-Cristo entusiasmou-se com os ensinamentos do Evangelho e decidiu propagá-los, enquanto vivesse. Leu, atencioso, as lições do Mestre e começou a comentá-Ias por toda parte, gastando dias e noites nesse mister.
Chegou, porém, o momento em que precisou pagar as próprias despesas e foi compelido a trabalhar.
Empregou-se sob as ordens de um orientador que lhe não agradou. Esse diretor de serviço achava-se muito distante da fé e, por isto, contrariava-lhe as tendências religiosas. Controlava-lhe as horas com rigor e observava-o com apontamentos acrimoniosos e rudes.
O pregador do Crucificado não mais se movimentava com a liberdade de outro tempo. Era obrigado a consagrar largos dias a trabalhos difíceis que lhe consumiam todas as forças. Prosseguia, ensinando a boa doutrina, quanto lhe era possível; porém, não mais podia agir e falar, como queria ou quando pretendia. Tinha os minutos contados, as oportunidades divididas, as semanas tabeladas e, porque se julgasse vitima das ordenações de sua chefia, procurou o diretor do serviço e despediu-se.
O proprietário que o empregara indagou do motivo que o levava a semelhante resolução.
Um tanto irônico, o rapaz explicou-se:

- Quero ser livre para melhor servir a Jesus. Não posso, pois, aceitar o cativeiro de sua casa.
Nesse dia de folga absoluta, sentiu-se tão independente e tão satisfeito que discorreu, animadamente, sobre a doutrina cristã, até depois de meia-noite, em várias casas religiosas.
Repousando, feliz, alta madrugada sonhou que o Mestre vinha encontrá-lo. Reparou-lhe a beleza celeste e ajoelhou-se para beijar-lhe a túnica resplandecente.
Jesus, porém, estampava na fisionomia dolorosa e indisfarçável tristeza.
O discípulo inquietou-se e interrogou:
- Senhor, por que te sentes amargurado?
O Cristo, respondeu, melancolicamente:
- Por que desprezaste, meu filho, a pregação que te confiei?
- Como assim, Senhor? - replicou o jovem - ainda hoje abandonei um homem tirânico para melhor ensinar a tua palavra. Tenho discursado em vários templos e comentado a Boa Nova por onde passo.
- Sim - exclamou o Mestre -, esta é a pregação que me ofereces e que desejo continues fervorosamente; todavia, confiei ao teu espírito a pregação fundamental da verdade a um homem que administra os meus interesses na Terra e não soubeste executá-Ia. Classificaste-o de ignorante e cruel; entretanto, olvidas que ele ignora o que sabes. E pretendes, acaso, desconhecer que o orientador humano que te dei somente poderia abordar-me os ensinos, nesta hora, através de teu exemplo? Tua humildade construtiva, no espírito de serviço, modificar-lhe-ia o coração... Se lhe desses cinco anos consecutivos de demonstrações evangélicas, estaria preparado a caminhar, por si mesmo, na direção do Reino Divino!. .. E ele, que determina sobre o tempo de duzentos homens, se faria melhor, mais humano e mais nobre, sem prejuízo da energia e da eficiência... Poderás ensinar o caminho celestial a cem mil ouvidos, mas a pregação do exemplo, que converta um só coração ao Infinito Bem, estabelece com mais presteza a redenção do mundo!...
O aprendiz desejou perguntar alguma coisa; entretanto, o Cristo afastou-se num turbilhão de luminosa neblina.
Acordou, sobressaltado, e não mais dormiu naquela noite.
De manhã, pôs-se a caminho do estabelecimento em que trabalhara, procurou o diretor de quem se despedira e pediu humildemente:
- Senhor, rogo-lhe desculpas pelo meu gesto impensado e, caso seja possível, readmita-me nesta casa! Aceitarei qualquer gênero de tarefa.
O chefe, admirado, indagou:
- Quem te induziu a esta modificação?
- Foi Jesus - respondeu o rapaz -; não podemos servi-Io por intermédio da indisciplina ou do orgulho pessoal.
O diretor concordou sem vacilação, exclamando:
- Entre! Estamos ao seu dispor.
Anotou a boa-vontade e o sincero desejo de servir de que o empregado dava agora vivo testemunho e passou a refletir na grandeza da doutrina que assim orientava os passos de um homem no aperfeiçoamento moral. E o aprendiz do Evangelho que retomou o trabalho comum, intensamente feliz, compreendeu, afinal, que poderia prosseguir na propaganda verbal que desejava e na pregação básica do exemplo que Jesus esperava dele.

Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Alvorada Cristã. Ditado pelo Espírito Neio Lúcio.


O Problema do Sofrimento


O Problema do Sofrimento
(Djalma Motta Argollo)
Imagem da Internet

A dor desempenha papél fundamental na existência dos seres vivos. Papel extremamente positivo para a sobrevivência individual e coletiva, estimulando a criatividade e a produção de elementos de proteção.

No caso específico dos seres humanos, a dor tem sido a grande incentivadora, também, na produção cultural, ressaltando-se aí o campo artístico. Todavia, é preciso frisar que não é o sofrimento em si o fator estimulante, mas a necessidade de superá-lo. Na verdade o ser humano é dirigido pelo “principio do prazer”. Estar bem é o objetivo essencial. Quando a dor interfere na fruição do bem-estar, impõe-se a necessidade dele ser restabelecido.

Podemos concluir, com toda a tranqüilidade, que todos os seres têm a destinação de viver bem, com alegria e satisfação plena. Em última análise, Epicuro tinha razão, errando apenas sua filosofia no desvio para o hedonismo radical, que é o reforço do egoísmo, pela perversão da finalidade real do prazer.

No atual estágio evolutivo, a existência prazerosa tem um defeito intrínseco de embotar a criatividade, desestimulando a procura de novas maneiras de viver e progredir. Se todos os seres vivessem em permanente satisfação, não tendo de lutar contra obstáculos e agressões do meio, a estagnação levaria à destruição da vida na Terra. A alternância dialética de dor e prazer é o mecanismo da evolução.

No caso específico do ser humano, cabe notar que existem dois níveis bem determinados de sofrimento: o natural, que ele compartilha com os demais seres da natureza; este nível foi denominado pelo espírito André Luiz de “dor-evolução”, por ser aquela que o obriga a desenvolver meios de superação, ampliando os recursos de proteção por estimular a criatividade; e o artificial, originado por atitudes incompatíveis com as leis físicas e psicológicas que regem a existência. É a este que o autor citado se refere sob as rubricas de “dor-expiação” e “dor-resgate”. Tal denominação está vinculada a uma visão “legalista” do destino, dentro do quadro de “crime e castigo”. Prefiro ver o aspecto pedagógico da situação, ressaltando, no caso, uma “dor aprendizagem”, que permite a correção de “filosofias de vida” inadequadas. Allan Kardec, em “O Evangelho segundo o Espiritismo” analisa magistralmente esse tipo de dor, ao estudar as “causas da aflição”. Não se deve esquecer que, fisicamente, dor denuncia um processo orgânico requerendo correção, para que o sofredor volte a se sentir plenamente bem. O sofrimento existirá na Terra, enquanto o homem estiver voltado egoisticamente para seu bem-estar, à revelia do bem-estar dos outros. Isto o Cristo nos diz claramente quando recomenda que só devemos fazer aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem.


Artigo publicado com autorização do autor. Leia mais artigos de Djalma Argollo na website www.djalmaargollo.com