Monteiro Lobato e o Espiritismo
As Sessões Espíritas de Lobato
narradas por ele mesmo
Lobato e o Além (J. Herculano Pires)
Monteiro Lobato não era um
simpatizante do Espiritismo. Era espírita praticante. Realizou uma série de
experiências com as chamadas sessões de copinho e conseguiu comunicar-se com os
filhos, parentes e amigos e falecidos, inclusive a famosa Tia Anastácia das
histórias infantis de Emília e Pedrinho que realmente existiu.
Este livro é
constituído pelas Atas das sessões de Monteiro Lobato, por ele mesmo escritas,
registrando as ocorrências de cada uma com a objetividade e clareza que o
caracterizavam. São atas lobateanas, cheias de humor e transbordantes de
inteligência. O reverso das atas maçudas e ilegíveis do documentário habitual.
Sente-se Lobato em cada vírgula, em cada linha.
As pesquisas espíritas de Monteiro
Lobato
Com uma visão de mundo arrojada, ele
inicia o mercado editorial brasileiro, e mais tarde torna-se o símbolo do
escritor da literatura infantil. Mas Lobato também fez outros escritos.
Ele conversava com os espíritos e fazia
atas das experiências que assistia em reunião familiar
"Sessão de 12 de agosto de
1944".
"Tivemos uma sessãozinha de
excepcional valor emotivo. Sem muita demora o copo escreveu": – Adamastor
Ferraz. – Português, evidentemente, mas de onde irmão? – Inhambane, Moçambique.
– Lembra-se de quando passou, ou faleceu, ou morreu? – Desencarnei em 1868. –
Uma coisa: estará, por acaso, vendo outros espíritos nesta sala, aqui junto de
nós? – Muitos. – Pode distinguir algum? – Principalmente uma irmã já idosa.
"Ficamos todos assanhados, porque podia ser a mãe de algum dos presentes.
Eu perguntei:"? – E onde está essa irmã? – Pegada a irmã vestida de preto
e branco (Purezinha estava com um vestido de ramagens brancas em fundo preto). "O
copo continuou": – Ela parece ter sido muito íntima. Tem olhos azuis.
"Dona Brasília, mãe de Purezinha, tinha olhos azuis. Havia, pois, de ser
ela. Pedi ao irmão Ferraz que lhe perguntasse o nome e o copo imobilizou-se,
sinal de que o espírito atuante está falando com outro. Depois escreveu":
– Brasília Natividade."A mãe de Purezinha! Fizemos um barulhão, e
eu": – Pergunte-lhe se pode tomar o copo e conversar conosco."O copo
imobilizou-se de novo, e depois escreveu": – Ainda não tem permissão. –
Que história de permissão é essa, Adamastor? Então há um governo aí, uma
tutelagem ou que seja, de modo que até para uma simples conversa conosco é
preciso "permissão"? Permissão de quem? – Nem nós o sabemos. –
Pergunte à irmã Brasília se não tem desejo de conversar com os seus parentes
vivos."O copo, depois de imobilizar-se, escreveu": – A vontade
sentida por ela de poder comunicar-se é imensa. Mas não o pode ainda. –
Pergunte-lhe se tem alguma coisa a dizer-nos. – Ela envia grandes saudades para
as filhas e filho. – Pergunte-lhe se sabe que Bentinho (irmão dela), já se
comunicou conosco quatro vezes. – Não. – E, além de Dona Brasília, não há algum
outro espírito marcante. – Uma irmã de cor negra."Quem seria? Pensamos em
Eugênia, a última criada preta de estimação que tivemos e levamos para os
Estados Unidos". – Pergunte-lhe o nome, irmão, "pedi – e o copo
depois da inevitável paradinha, escreveu": – Anastácia."Fizemos uma
festa. Tia Anastácia fora ama-seca de Edgard, e queridíssima da casa". –
Não poderá Anastácia tomar o copo e conversar conosco? – Ainda não tem força.
(...) Agradeci a Adamastor a sua bondosa atuação e pedi-lhe que aparecesse mais
vezes – e que nos dissesse uma frase final, ou conselho para fecho da nossa
extraordinária sessão. O copo escreveu": – Cuidem de suas vidas que já não
fazem pouco."E mais não houve. Por mais que tentássemos, não saiu mais
nada"."Fizemos tudo para que aparecesse o K..., mas inutilmente"
(trecho de ata redigida por Monteiro Lobato, em reunião espírita, no grupo
familiar).
A exaltação do sentimento
nacionalista já foi uma característica mais marcante em todos os países antes
da globalização. Mas hoje, a idéia do que é ou não nacional quase se perdeu em
meio à quebra de barreiras comerciais e culturais, e ao aprimoramento dos
sistemas de comunicação internet.
No Brasil, pós-República, o
nacionalismo começou a tomar uma forma mais definida e atingiu o seu auge entre
o início dos anos de 1930 até o final de 1970.
Em parte deste período, ele exerceu seu nacionalismo de forma contundente
e corajosa. Estamos nos referindo ao advogado, crítico de artes, cronista e
escritor paulista José Bento Monteiro Lobato (1882-1948).
Em 1907, Monteiro Lobato tornou-se
promotor público em Areais - SP e lá se casou com Maria Pureza Lobato, entre os
amigos conhecida como Dona Purezinha. Aproveitando a vida do interior, eles se
mudaram para a fazenda que herdara do avô, o que rendeu o surgimento do
personagens como Jeca Tatu e estudos acerca do Saci, figura do folclore
brasileiro; e também sedimentou uma base
para sua principal obra literária que realizaria mais à frente.
Lobato e o Espiritismo
Mas alguns escritos de Lobato também
passam pelo Espiritismo.
Em 1943, ele registrou em atas as
sessões mediúnicas das quais participava, em grupo familiar. Seu interesse pela
doutrina espírita teve início em 1900, por meio de leituras de textos do físico
William Crookes, conforme consta no livro Monteiro Lobato e o Espiritismo, de
Maria José Sette Ribas. Lá, foram publicadas as atas das reuniões onde
ocorreram suas experimentações com a mediunidade.
O livro revela o método utilizado
pelo escritor e seu grupo para entrar em contato com os Espíritos. Eles
utilizavam um copo, que sob a ação dos Espíritos e sendo tocado pelo médium e
assistentes, desliza sobre um alfabeto disposto de maneira circular, lembrando
alguns aspectos das tábuas de ouija. Esse método já era considerado primitivo e
ultrapassado naquela época, além do que já existiam diversos médiuns
psicógrafos e psicófonos no Brasil.
Nas sessões, cabia a Lobato anotar as
letras do alfabeto que tinham sido escolhidas pelos Espíritos, em resposta às
perguntas formuladas; bem como a tarefa de escrever as atas.
A médium do grupo familiar era sua
esposa,dona Purezinha. Durante os
encontros que se deram entre 1943 e 1947, esclarece José Herculano Pires, no
prefácio do livro, Monteiro Lobato aprendeu a "dialogar" com os
Espíritos comunicantes e chegou até mesmo a obter a transformação moral de um
que se identificou pelo nome K, que inicialmente atormentava os encontros.
Entre as atas elaboradas, encontramos
uma que vem endossar a informação de que os Espíritos não estão à nossa inteira
disposição. De fato, em 3 de junho de 1944, o grupo de Lobato aguardou durante
meia hora, mas não ocorreu qualquer movimento do copo.
Seu interesse pelos contatos com os
habitantes do mundo espiritual levou-o a traduzir para a língua portuguesa o
livro, escrito por Oliver Lodge.
Deixando a frase "estou ansioso
por verificar, pessoalmente, se a morte é vírgula, ponto e vírgula ou ponto
final", Monteiro Lobato desencarnou repentinamente em 1948, legando vasta
herança ao povo brasileiro, primeiro por sua defesa, não somente da indústria
do petróleo, mas de todo patrimônio nacional; depois, pelos relatos das
aventuras ocorridas no que, até hoje, encantam o imaginário popular; e, por
fim, pelas atas de suas reuniões mediúnicas, que hoje podem ser utilizadas como
mais uma comprovação da realidade dos Espíritos desencarnados e de suas
capacidades.
Bibliografia:
Licurgo de Lacerda Filho. Mediunidade na História Humana. Minas
Editora.
Maria José Sette Ribas. Monteiro
Lobato e o Espiritismo. São Paulo:Lachatre, 2004.
Presidente do CE
Caridade e Amor André Luiz e do Grupo Cairbar Schutel de Divulgação Espírita de
Pindamonhangaba,SP. E-mail: david.ascenco@globo.com
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