Ressurreição e Reencarnação
"E os que fizeram o bem sairão para a
ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da
condenação." (João, 5: 29)
"Porque o que semeia na sua carne da
carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito do Espírito ceifará a
vida eterna."(Gálatas, 6: 8)
Ao
iniciarmos o estudo destes versículos faz-se preciso como introdução fazermos
algumas considerações.
Conforme nos informa Kardec a reencarnação
fazia parte dos dogmas dos judeus, sob o nome de ressurreição1. Porém, como ele
próprio coloca, as idéias dos judeus sobre esse ponto, como sobre muitos
outros, não eram claramente definidas, porque apenas tinham vagas e incompletas
noções acerca da alma e da sua ligação com o corpo.2
Isso
acontecia não só com os judeus, mas também com outros povos que criam na
proposta palingenésica.
Só com
o advento da Doutrina Espírita a idéia da reencarnação ganhou um estudo mais
completo e que pôde elucidar alguns pontos até então obscuros. Não foi Kardec
quem inventou nem quem descobriu a reencarnação, ela existe desde o princípio
dos tempos, porém, ele com lógica e bom senso, e assessorado pelos Espíritos
superiores, deu uma fundamentação científica ao assunto.
Outro
ponto que precisa ser considerado é que nem todos os judeus criam na teoria das
vidas sucessivas. O judaísmo ao tempo de Jesus não era uma religião sem
rupturas, um bloco concreto e unificado, no judaísmo do I século de nossa era
havia muitos subgrupos entre os judeus cada qual com suas características
próprias.
Os
fariseus tinham uma idéia sobre a reencarnação; é ela também fundamental para a
crença da corrente hassídica.3
Todavia, quando Jesus se referia à ressurreição
não era de reencarnação que ele estava dizendo.
…mas os que forem havidos por dignos de
alcançar o mundo vindouro e a ressurreição dos mortos nem hão de casar, nem ser
dados em casamento; porque já não podem mais morrer, pois são iguais aos anjos
e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição.4
Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em
mim, ainda que esteja morto, viverá.5
Analisemos o texto proposto:
“E os que fizeram o bem sairão para a
ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da
condenação.” (João, 5: 29)
E os que… - Define que todos que procederem
da forma indicada terão como consequência colheita de acordo com a semeadura. É
a Lei de Causa e Efeito.
Depois
há uma relação:
Fazer
o bem - ressurreição da vida
Fazer
o mal - ressurreição da condenação
"Sair para ressurreição da vida é
dinamizar a capacidade nossa de, na medida em que nos entrosarmos num processo
de maior ajuste às Leis que nos governam, sairmos da necessidade de ressurgir
no plano reencarnatório nas linhas das provas e expiações. É quando entramos
numa linha de cooperação com as forças superiores da vida dentro de uma linha
missionária. Perdemos peso de inferioridade e ganhamos em
espiritualidade." (Honório Abreu)
O que
isto significa?
É quando
vencemos aquele último inimigo citado por Paulo, a morte [do pecado], e aí
entramos na vida eterna.
A
expressão vida eterna no Evangelho não fala de nossa vida biológica que temos e
não vemos perder mais, mas de uma vida de qualidade, qualidade esta obtida
através da aplicabilidade do Evangelho. É a vida abundante; nesse momento cessa
o ciclo reencarnatório.
É aí
que entra o segundo versículo proposto para o estudo:
…mas o que semeia no Espírito do Espírito
ceifará a vida eterna. (Gálatas, 6: 8)
Portanto, ressurreição da vida, conforme esta
análise é não mais precisar reencarnar é adquirir qualidade para entrar no
mundo vindouro:
…mas os que forem havidos por dignos de
alcançar o mundo vindouro e a ressurreição dos mortos nem hão de casar, nem ser
dados em casamento; porque já não podem mais morrer…6
Ressurreição da condenação, dentro deste
contexto, é justamente viver sob o impacto da Lei em seu aspecto justiça. Aí é
que entra a reencarnação.
Não
que reencarnar seja uma condenação como pensaram os gnósticos. Reencarnar é uma
benção divina, porém não deixa de ter seu lado condenatório, pois aquele que
reencarna dentro do processo natural da evolução está imerso no ambiente das
provas e das expiações.
Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará
a corrupção…
Dentre
os conceitos de corrupção está o ato, processo ou efeito de corromper.
Deterioração, decomposição física, orgânica de algo; putrefação.7
Não é
a isso que estamos sujeitos no plano em que vivemos? Morte sob vários aspectos?
Desejamos
sair deste plano de acontecimentos de sucessivas perdas e ganhos, de vida e
morte?
Adotemos então a proposta do Evangelho.
Jesus
veio justamente instaurar em nós a era do Espírito, tudo que aconteceu
anteriormente era relativo ao homem-biológico…
…eu vim para que tenham vida e a tenham com
abundância.8
Queridos amigos, esta é apenas uma
interpretação do texto, muitas outras, e até melhores do que esta, certamente
haverá.
…sabendo primeiramente isto: que nenhuma
profecia da Escritura é de particular interpretação.9
Primeiro estudo proposto
O tema
da ressurreição era um tema polêmico no tempo de Jesus.
Os
fariseus tinham-na como certa, os saduceus não a aceitavam.
Conforme colocação de Kardec:
A reencarnação fazia parte dos dogmas dos
judeus, sob o nome de ressurreição. Só os saduceus, cuja crença era a de que
tudo acaba com a morte, não acreditavam nisso. As idéias dos judeus sobre esse
ponto, como sobre muitos outros, não eram claramente definidas, porque apenas
tinham vagas e incompletas noções acerca da alma e da sua ligação com o corpo.
Criam eles que um homem que vivera podia reviver, sem saberem precisamente de
que maneira o fato poderia dar-se. Designavam pelo termo ressurreição o que o
Espiritismo, mais judiciosamente, chama reencarnação. Com efeito, a
ressurreição dá idéia de voltar à vida o corpo que já está morto, o que a
Ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo quando os elementos
desse corpo já se acham desde muito tempo dispersos e absorvidos. (Evangelho
Segundo o. Espiritismo, cap. 4 item 4)
Josefo, em Guerra dos Judeus, II.8.14 conforme
citação de Champlin, nos diz que:
"Os fariseus criam na imortalidade da
alma, que haveria de reencarnar-se. Isso poderia envolver uma série de
reencarnações (doutrina essa muito comum naquela época, que evidentemente
também era defendida pelos essênios.), mas também incluía a idéia de que a alma
haveria de animar o corpo ressurrecto. Criam fortemente na sorte ou
determinismo, no universo, bem como na existência dos espíritos. (O Novo
Testamento, Interpretado Versículo a Versículo. Nota a Marcos, 3: 6)
Se os fariseus mantinham um ponto de vista
que cria na ressurreição literal, os saduceus rejeitavam essa idéia, juntamente
com outras doutrinas que envolvem o sobrenatural, como a existência e a
sobrevivência da alma e a existência dos espíritos. (Ib. Nota a Mateus, 22: 23)
Diante
este contexto, e aplicando ao Evangelho os ensinamentos da doutrina espírita,
como podemos compreender os versículos evangélicos abaixo?
E os que fizeram o bem sairão para a
ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da
condenação. (João, 5: 29)
Porque
o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no
Espírito do Espírito ceifará a vida eterna. (Gálatas, 6: 8)
1 Evangelho Segundo o. Espiritismo, cap. 4
item 4
2 Idem
3 Cf. SEVERINO, Celestino. Analisando as
Traduções Bíblicas, 2ª Ed. Pág. 145.
4 Lucas, 20: 35 e 36.
5 João, 11: 25
6 Lucas, 20: 35 e 36
7 Dicionário Houaiss
8 João, 10: 10
9 2 Pedro, 1: 20
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Autor:
Claudio Fajardo de Castro (Juiz de Fora/MG)
Cláudio Fajardo é bancário, escritor desde
1997, dedica-se ao estudo do Novo Testamento à luz da Doutrina. Coordenou curso
de Espiritismo no Centro Espírita Amor e Caridade em Goiânia – GO, denominado
de Curso de Espiritismo e Evangelho. A partir daí surgiram seus livros: O
Sermão do Monte, Jesus Terapeuta I e II, O Sermão Profético e O Sermão do
Cenáculo, todos publicados pela Editora Itapuã.
Blogs:
http://espiritismoeevangelho.blogspot.com/
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